Pesquisar este blog

sexta-feira, 19 de março de 2010

Vida e obra de Eduardo Ribeiro  finalmente é
resgatada com inauguração de museu em Manaus
Manaus - O Governo do Estado, através da Secretaria da Cultura, entrega nessa quinta-feira, dia 18, às 18h, na Rua José Clemente, o Museu Casa de Eduardo Ribeiro. O Museu recupera a história pessoal e política do ex-governador do Amazonas, Eduardo Ribeiro.
Trata-se de um belo exemplar dos vários palacetes edificados, no centro tradicional de Manaus, no período áureo da economia da borracha (1880 -1914), numa área bastante valorizada, especialmente por sua proximidade com o Teatro Amazonas e o Centro Cultural Palácio da Justiça.
Além dos acervos históricos, que trazem ao presente a vida e o trabalho de Eduardo Ribeiro, funcionará também, no térreo do palacete, o Museu Digital da História da Medicina do Amazonas, implantado pela Cultura em parceria com o Conselho Regional de Medicina.
As visitas ao palacete deverão ter, em média, uma hora e meia de duração e acontecem das 9h às 17h, de segunda à sexta-feira; e das 16h às 21h nos domingos. A entrada é livre e os guias apresentarão os espaços.
O espaço oferecerá ainda Teatro História com datas agendas, informações na linguagem virtual da vida e obra de Eduardo Ribeiro, da família Brett Vau de Castro e do Museu de Medicina.
Confira entrevista com secretário de Cultura do Amazonas Robério Braga.
Quem foi Eduardo Ribeiro e qual sua importância para o Amazonas?
Robério Braga: Eduardo Ribeiro era um maranhense, negro, militar, de aproximadamente 1.60m de altura.Na verdade, uma figura estranha para a sociedade daquela época. Nordestino, chegou ao Amazonas para cumprir funções no destacamento militar. Era republicano, positivista, aluno de Benjamim Constant. Com a implantação da República, o grupo militar a que ele se integrava, assumiu o governo e ele passou a ser secretário, o que corresponderia a ser hoje secretario de obras ou diretor de obras públicas. A partir dai fez uma carreira política meteórica, sendo governador em quatro ocasiões. Eduardo Ribeiro foi extremamente transformador na cidade e o responsável pela mudança da paisagem urbana da cidade de Manaus.
Foto: Mobiliário do Museu Eduardo Ribeiro, em Manaus
Como era a cidade na época em que Eduardo Ribeiro governou?
Robério Braga: Eduardo Ribeiro transformou uma aldeia numa cidade com prédios, ruas, calçadas, promoveu a arborização e todos os serviços públicos urbanos que existiam na Europa como: lavagem da rua, esgoto, água encanada, telefone, iluminação publica, bondes elétricos, incineração de lixo. Ele dotou Manaus de serviços que, inclusive, hoje a cidade não dispõe. Mesmo com todas as condições financeiras, a cidade de Manaus não dispõe hoje da mesma qualidade de vida que tinha na época do Eduardo Ribeiro. A receita pública era muito maior do que a receita atual. A cidade tinha em torno de 45 mil habitantes e ele fez uma administração transformadora. Foi um dos pioneiros do Brasil da transformação urbana do chamado "Embelezamento das Capitais" que depois se deu no Rio de Janeiro, em 1906, com o prefeito Pereira Passos.
Como Eduardo Ribeiro vivia?
Robério Braga: Ele possuía duas casas de residência: uma no centro da cidade, na área nobre de Manaus, onde agora é o museu, e uma chácara na estrada de Flores, exatamente na vizinhança do atual Estádio Vivaldo Lima onde foi depois o Hospital de Alienados Eduardo Ribeiro, em cuja casa ele morreu supostamente de "suicídio" em 14 de outubro de 1900.( Há versões que ele teria sido assassinado).
Foto: Tela - Eduardo Ribeiro
Fale sobre a importância de restaurar a casa onde viveu Eduardo Ribeiro.
Robério Braga: Nós estamos dentro de um programa chamado "Manaus Teleporter" em que o governo vem restaurando espaços significativos da paisagem tradicional da cidade da Época Áurea da Borracha. Essa casa que estamos inaugurando tem uma história com Eduardo Ribeiro e além do Eduardo Ribeiro. De 1890 a 1900, foi residência do Eduardo Ribeiro. De 1907 a 1961 foi propriedade da família do engenheiro Brito Valdo de Castro, profissional que trabalhou com Eduardo Ribeiro em Manaus. Esse local também foi sede dos serviços públicos de saúde. Nesta casa já funcionou a Sucam e a Delegacia da Saúde Publica Federal e depois o Conselho Regional de Medicina. Então, temos varias razões para restaurar esse local. Em termos arquitetônicos, o prédio é um exemplar da edificação urbana da época da borracha.
Como foi o processo de restauração da casa?
Robério Braga: Nós encontramos a casa em escrombos. Só possuía as quatro paredes.Teve que ser reconstruída com todos os referenciais da época.Nós tínhamos, um ano antes, feito um documentário fotográfico e filmográfico que nos permitiu reconstituir pisos, decoração de parede, posição de escada, os adornos. O mobiliario foi adquirido em antiquários do Rio de Janeiro e São Paulo conforme referências do inventário do próprio Eduardo Ribeiro.Tudo aquilo que constava como bens na casa do Eduardo Ribeiro, nós procuramos comprar exatamente do mesmo padrão, do mesmo modelo, do mesmo tipo, da mesma época.E ainda temos uma peça que é uma cadeira de embalo pertencente a ele,que está na exposição. Ao lado disso, nós vamos fazer também fazer no local a sede da Academia Amazonense de Medicina para estabelecer um histórico com a medicina na cidade.
A restauração também trouxe tecnologia....
Robério Braga: Todo o sistema de informação do museu é bilíngüe em português e inglês com telas de computadores tec screen. O próprio usuário vai poder se informar livremente. Terá também a sala de projeção em 3D. A pessoa vai poder assistir a pequenos filmes sobre farmácias de Manaus, hospital de Manaus, obras de Manaus na epoca do Eduardo Ribeiro. Será a junção do histórico com o ultramoderno.
Há muito material histórico preservado no museu?
Robério Braga: Nós temos livros, jornais da época, documentos, peças que o Eduardo Ribeiro naturalmente discutia se ia usar na cidade como pedra paralelepípedo, cadeira do teatro, telha do Teatro Amazonas. Há Plantas do teatro, plantas da cidade de Manaus. O Eduardo Ribeiro é sempre muito lembrado pelas obras físicas que ele construiu: Teatro Amazonas, Palácio da Justiça, Eduardo Ribeiro, Mocó, reservatório aqui e ali. Mas há outro Eduardo Ribeiro que foi o de visão alargada na administração publica.
Como o senhor pode explicar essa característica dele?
Robério Braga: Eduardo fez um grande trabalho de incremento da receita oficial com o sistema de fiscalização e contabilidade. Algo muito moderno que não existia na época. Fez um mapeamento da cidade de Manaus para aquilo que hoje os administradores municipais chamam de "plantas de valores" para definir quanto valia o IPTU. A cidade era um deserto e ele começou a construção de prédios de alta qualidade. Determinou a execução de uma nova planta cadastral da cidade de Manaus, além do nivelamento para poder implantar o serviço de bondes elétricos. O bonde não podia subir ladeira, descer, passar em igarapé, subir no rio. Era preciso aterrar a cidade e nivelá-la e foi isso que fez.
Eduardo Ribeiro também investiu na educação?
Robério Braga: Ele fez uma grande reforma na educação, aplicando métodos das escolas suíças, trazendo livros da suíça, carteiras da suíça, tecnologias da época, trouxe educação suíça para Manaus.
Eduardo Ribeiro, portanto, era um administrador moderno?
Robério Braga: Eduardo Ribeiro foi um construtor, transformador da cidade, restaurador de uma estrutura urbana que trabalhava para boas condições de vida da cidade. O último bairro planejado da cidade de Manaus é o bairro da cachoeirinha. Foi o Eduardo Ribeiro que fez. Ruas largas, calçadas largas, todas arborizadas, casas com quintal. Hoje mesmo a Prefeitura está falando em fazer um bairro modelo. O Eduardo Ribeiro fez isso em 1892. Vê o quanto a cidade perdeu pela ausência da continuidade de programas de planejamentos que ele implantou? Na época não se chamava planejamento, plano de governo, plano de meta. Era apenas uma grande ação de governo para transformar uma aldeia numa cidade que fosse modelo. Hoje o Prosamim tenta resolver um problema de esgoto que o Eduardo Ribeiro fez em 1890. A cidade era um esgoto, as mulheres iam pra missa de domingo, descalças, de vestido branco comprido com uma flor vermelha no cabelo. Elas iam descalças por que não tinha rua, não tinham calçadas.
O senhor acha que Eduardo Ribeiro foi devidamente reconhecido?
Robério Braga: A Secretária de Cultura entende que Eduardo Ribeiro foi um referencial como administrador. Sabemos que isso provocou na época grande ciúmes por parte dos políticos. Quem mais fazia oposição a Eduardo era o Presidente da Assembléia, deputado Emilio José Moreira. Era um rico capitalista do interior, irmão de dois deputados. Também tinha dois genros deputados, além dele próprio ser genro de deputado. Num total de 16 deputados, sete eram da família do Emilio Moreira.
Como se deu a morte de Eduardo Ribeiro?
Robério Braga: Ele amanheceu morto, enforcado, sentado no chão no dia 14 de outubro 1900, como se tivesse sido enforcado. Foi enforcamento, suicídio, envenenamento por ervas, homicídio? Até hoje não se descobriu. Todos os laudos e relatórios médicos expedidos na época deram como suicídio. Tecnicamente precisaria ser estudado pela medicina legal, mas havia uma grande resistência à continuidade da influência política de Eduardo Ribeiro. Havia políticos do lado dele mas também um grupo enorme contrário.
Quem ficou do lado de Eduardo Ribeiro na época?
Robério Braga: Os maranhenses e militares. Ele era nordestino. Na época, uma leva de nordestinos vinha para Manaus e ia para o interior trabalhar como seringueiro. Eram pessoas com pouca qualificação, com pouca influência. O pequeno grupo que ficou aqui era a classe dominante, dominou o governo do estado, dominou a prefeitura. Este grupo traiu o Eduardo Ribeiro porque ele não escolheu o candidato deles para sucedê-lo em1896. Com a disputa pelo poder, ele foi vitima do processo politico.
Foto: Charrete usada por Eduardo Ribeiro
Qual o valor gasto na restauração do espaço?
Robério Braga: Só vou levantar números depois que acabar. Há uma estimativa de R$ 1,5 milhão de reais.
Como serão as visitas ao local?
Robério Braga: Amanhã (19) começa a visitação com guias bilíngües, guias inclusive em libras, para receber as pessoas que tenham deficiência auditiva. Haverá espetáculos no local. Na quinta e domingo teremos eventos culturais, concerto de piano, canto, dramatização da história do teatro. Com texto do dramaturgo Sergio Cardoso e direção da Socorro Andrade, atores amazonenses interpretarão a vida do Eduardo Ribeiro. A população vai poder usufruir imediatamente de todo esse espaço.(Portal Amazônia - Agecom)











Nenhum comentário: