Pesquisar este blog

terça-feira, 27 de abril de 2010

Mudança de comportamento

SERRA AFIRMA QUE SEU COMPROMISSO
É TORNAR PERENE A ZONA FRANCA

Manaus - Natural de São Paulo, economista e político filiado ao PSDB, José Serra foi prefeito da capital paulista, deputado federal, senador, ministro da saúde e ministro do planejamento e orçamento. Em 2006, foi eleito governador de São Paulo. Atualmente é candidato à Presidência da República nas eleições de 2010.
Em 26 de abril de 2010, José Serra concedeu ao Amazon Sat, por meio do programa "Momento Amazônia", a seguinte entrevista:
Amazon Sat: Sua trajetória de vida, no início, foi bem modesta. Seu pai foi vendedor de frutas e o senhor morou por muito tempo em uma vila de operários. Nesses 50 anos dedicados à política, o senhor não quis ressaltar essa imagem. Por quê?
José Serra: Eu era muito novinho, quase um adolescente. Nunca falei por discrição natural, sou uma pessoa muito discreta, mas com o tempo fui me dando conta que as pessoas se interessam sobre a minha vida. Não foi uma vida importante, mas de todo modo hoje as pessoas querem me conhecer melhor. Meu pai era imigrante italiano e comerciante bem modesto. Nós morávamos em uma vila de operários na Moca, um bairro onde nasceu a indústria em São Paulo, em uma casinha de quarto e sala. Até uns seis ou sete anos eu dormia com meus pais, depois fui promovido e podia dormir na sala. Mais tarde nós mudamos para uma outra casa, mais ou menos do mesmo tamanho, em um bairro na Vila Bertioga, na periferia de São Paulo. Era um lugar onde não tinha luz na rua, não tinha esgoto, não tinha calçamento, mas foi uma infância boa. Eu estudei sempre em escola pública. Aliás, eu consegui estudar por dois motivos: primeiro porque eu era filho único, então meu pai não tinha que manter muita gente; segundo porque tinha escola pública boa.Com isso , cheguei até à universidade. Eu ajudava meu pai no mercado quando era adolescente, depois fiquei bom de matemática e comecei a dar aula particular para a garotada.Com isso me mantive, pude fazer cursinho, entrei na faculdade de engenharia, me infiltrei em política estudantil e virei presidente da União Estadual de Estudantes. Antes fui do grupo de teatro, fiz teatro, fui diretor do grupo de teatro, diziam até que eu tinha futuro nisso.Entre político e artista há também um ponto de encontro. Foi a política estudantil,depois fui eleito presidente da UNE, União Nacional dos Estudantes,que na época era uma entidade forte.
Amazon Sat: O senhor foi líder estudantil e quando foi instaurado o regime militar acabou sendo exilado.De que forma, o que aconteceu no passado interfere na sua forma de fazer política hoje ?
José Serra: Há até uma curiosidade. Pouco antes do golpe, eu estava em Manaus, no Seminário de Defesa da Amazônia, uma idéia minha. Estudantes de todo o Brasil discutiam a Amazônia. Isso em 1964. Aí eu tive notícias que o golpe era iminente. Foi uma pena porque eu não conheci bem Manaus. Existia ainda o antigo mercado. Na época não havia Suframa, era outra coisa. A cidade era bem menor, muito agradável, havia chuva todos os dias e um calourão. Com a notícia do golpe iminente peguei um avião, voltei e parei em Minas Gerais. Reuni o pessoal da organização estudantil que eu pertencia, a "Ação Popular", vim para São Paulo, me despedi da namorada e dos meus pais. “Mas como ?” Quem estava distante não percebia. Daí eu disse que viria um golpe e ninguém iria conseguir enfrentar. Fui para o Rio e veio o golpe. Eu morava no Rio e ficava muito difícil saber onde ficar ou onde não ficar . Depois de algum tempo, eu era muito procurado . Acabei indo para o exterior via Bolívia. Depois fui para a França, com uma bolsa dos padres dominicanos e comecei a estudar Economia. Até então eu era estudante de Engenharia. Mais voltei pra o Brasil, clandestino, pela luta política. Todo o meu pessoal, todo mundo que era próximo foi preso. Todo mundo foi preso numa reunião em que eu não estava. Tive que sair de novo, e fui para o Chile, onde eu me radiquei. Fiquei lá, passei a estudar economia e virei professor. Quando houve o golpe no Chile fui preso também, apesar de ter imunidade. Nessa altura eu já era funcionário internacional. Fui até o estádio internacional e consegui sair de lá. Fui o único caso entre todo mundo. Depois fiquei seis meses em uma embaixada da Itália, porque sou de família italiana. A partir da Embaixada da Itália, fui pra Itália, para os Estados Unidos, onde fui fazer o doutorado em Economia. Trabalhei também em Princeton por dois anos. Voltei para o Brasil quando expirou, quando venceu uma condenação que eu havia recebido, inteiramente furada, e também por crime de opinião. Quer saber a diferença entre a democracia e a não democracia? Na não democracia o sujeito é preso por crime de opinião. Na democracia não, a opinião é livre, a crítica é livre.
Amazon Sat: De que forma seu passado como líder estudantil, sendo exilado também no regime militar, influencia na sua forma de fazer política hoje?
José Serra: De duas formas. Primeiro porque eu olho o Brasil como um todo; eu conheci todo o Brasil. Com 21 anos estava organizando o Seminário, que inclusive tinha gente de fora, de Defesa da Amazônia. Ou seja, eu já tinha todo o Brasil presente.Tenho uma familiaridade com todo o País. Segundo, no exílio, eu olhei o Brasil , que eu me preparei. Eu estudei muito. Agradeço aos céus. Não que tenha sido bom, mas eu fiz da pedra uma limonada, porque consegui estudar, me preparar e compreender muito bem o nosso País. De forma que, quando voltei, estava muito mais preparado do que estaria estado, caso eu continuasse aqui.
Amazon Sat: O senhor foi candidato as eleições de 2002 e acabou perdendo. Neste ano de 2010 o senhor se sente mais preparado para ser presidente do Brasil? O que mudou de lá para cá?
José Serra: Na época eu não me achava preparado, mas hoje devo dizer que me sinto mais preparado, porque nesse meio tempo fui prefeito da maior cidade do Brasil, que é São Paulo, uma cidade muito difícil. As pessoas de foram falam “Ah, São Paulo é rica”, mas tem pobreza, tem problemas que não acabam mais. Quando eu saí da Prefeitura, as pesquisas mostraram que eu fui o prefeito melhor avaliado, desde que começou a haver pesquisas. Depois eu fui para o Governo do Estado, onde também aprendi muito, e olha que eu já conhecia bem. A minha vida é um constante aprendizado. A coisa que mais gosto de fazer é aprender. Tenho sempre curiosidade para saber como as coisas funcionam. Sou apaixonado pelo conhecimento novo e pela experiência nova. Por outro lado, em 2002, o Brasil inteiro testemunhou que eu fiz uma campanha limpa, fui para o segundo turno com o Lula, apesar de toda a força que o Lula tinha. O país estava querendo reeleger o Lula. Fizemos um único debate no segundo turno, que eu queria ter tido, mas tudo com nível, com altura, mas o Brasil decidiu a sua escolha. A derrota de 2002 também é uma experiência importante, porque na democracia a gente ganha e a gente perde também. Temos que ser altivos na derrota e humildes na vitória. Isso eu acredito que fiz.
Amazon Sat: Há projetos do atual governo que beneficiaram muito a nossa região. A BR 319 (Manaus-Porto Velho) é uma das prioridades do PAC 2. Já temos nesta rodovia 200 quilômetros construídos tanto numa margem quanto da outra, mas ainda faltam 400 quilôemetros do meio não construídos por conta de divergência políticas. O Sr pretende dar continuidade a esse projeto?
José Serra: Eu pretendo. Pretendo fazer essa ligação Porto Velho-Manaus. Pode ser também uma solução ferroviária. O importante é que isso seja feito. Para mim, vida pública tem um sentido: fazer as coisas acontecerem. Se você olhar o meu passado, vai ver isso. Na Constituinte, criei o fundo de amparo ao trabalhador.O projeto financia em muito o desenvolvimento brasileiro e tirou o seguro desemprego do papel. No Ministério da Saúde, os genéricos, a briga de patente. Quando administrei São Paulo, triplicamos os investimentos, fizemos o Rodoanel que é imenso com 3 anos de trabalho, inclusive enfrentando problemas ambientais.Vamos equacionar porque esta comunicação é crucial. Precisamos levar em conta também as objeções ambientais, senão vem o Judiciário,o Ministério Público e fica tudo empacado. Vamos equacionar isso da melhor maneira e vamos fazer porque é fundamental para a Amazônia.
Amazon Sat: Como fazer isso governador? Esse equilíbrio entre desenvolvimento, investimento e infraestrutura, no caso da BR 319 ligando o Norte ao restante do país. Como alcançar a harmonia, o equilíbrio, com preservação do meio ambiente?
José Serra: Se você levar em conta que a floresta é um patrimônio, ela vale, vale muito. Você já melhora sua posição porque isso significa que você vai ter que gastar um pouco mais. Nós fizemos em São Paulo os discos do Rodoanel que é uma obra que circunda a cidade. São 60 quilômetros e custou 5 bilhões, uma coisa imensa. Por quê? Porque nós fizemos todas as compensações ambientais. Nós também estamos salvando lá, porque no meu estado há pouca floresta. São 13, 14%. Nós conseguimos aumentar a Mata Atlântica. Isso tudo foi planejado direitinho. Não adianta ficar dando murro em ponta de faca. É preciso equacionar e tem que equacionar. Temos que fazer coisas mais rapidamente e resolver as questões ambientais. Nós temos que resolver de forma correta e conciliar. Ter gente construtiva para isso.
Amazon Sat: Falando em desenvolvimento, qual é o seu direcionamento sobre a questão energética na Amazônia, sobretudo no que diz respeito à construção de hidrelétricas?Temos ai o leilão da usina de Belo Monte. O que o Sr acha sobre isso?
José Serra: Eu sou a favor de produzir energia elétrica em Belo Monte. Agora, é uma obra que custa de 19 a 30 bilhões. 19 é o que aparece, mas você ouve aí gente especializada dizendo que pode custar até 30. Não tem aquele rendimento que se imaginava, em quilowatts. É uma obra que tem muitos condicionantes, do ponto de vista ambiental, do ponto de vista econômico e do ponto de vista também dos procedimentos. Acho que o governo deveria ter uma audiência pública no Congresso, ouvir mais, para mais adiante não ter problema. Por que nessas coisas, a gente tem experiência. Quando um negócio sai, nasce de uma maneira encrencada, encrenca no caminho e fica tudo se arrastando. Eu sou a favor de aproveitar o potencial hidrelétrico que o Brasil tem, que é um verdadeiro patrimônio nosso.
Amazon Sat: O Governo Lula também lançou o PAS, o Plano Amazônia Sustentável, uma parceria do Governo Federal com os governos estaduais na Amazônia, para investir em projetos que levem o desenvolvimento para a região, mas de forma sustentável. Programas como esse serão mantidos caso o Sr seja eleito?
José Serra: Serão mantidos e efetivados. O PAS é uma coisa mais ou menos consensual, do nosso senso comum. Não está errado, mas saiu pouco do papel. Ele foi criado, se não me engano, há 2 anos, em 2008, mas saiu pouco do papel. Então nós temos que tirar do papel, fazer acontecer. Essa que é a questão, não adianta você ter um documento, todo mundo achar bonito e não sair do papel.
Amazon Sat: Governador, por que é tão difícil tirar propostas como essa do papel?
José Serra: Porque você precisa estar focado no fazer acontecer, precisa controlar o que acontece e precisa fazê-lo todo coerente. Ou você coordena as ações ou não faz. Se eu vier a ser presidente como espero, vou criar o Conselho de Desenvolvimento da Amazônia, ligado à presidência da República, inclusive comigo participando das reuniões quando for o caso. Ou seja, acompanhar diretamente como presidente como é que andam as coisas em 60% do nosso território.Com essa riqueza de patrimônio natural extraordinária que no mundo de hoje é um cacife, é um patrimônio, um riqueza diante do resto do mundo. Eu acho possível,t enho uma militância ambiental, tenho experiência nessa matéria grande, atrair recursos de fora para manter a floresta sendo bem explorada. Porque a única maneira de você preservar toda essa floresta é desenvolvendo atividades onde for necessário que preservem a floresta e possam extrair benefícios econômicos. Quando fui ministro do planejamento, nomeei o Mauro Ricardo superintendente da SUFRAMA, e ele criou depois, esteve por trás, o Centro de Biotecnologia em Manaus. Nós temos que investir imensamente em biotecnologia. Sabe o que vai acontecer com a biotecnologia? Vai passar por um progresso tão grande quanto à tecnologia da informação, a informática. Daqui a poucos anos, será uma coisa atrás da outra e nós temos a maior riqueza do mundo. Então, temos que investir pesadamente, mais muito. Formar especialistas para essas novas tecnologias, novos produtos. É preciso trabalhar com coisas da Amazônia e principalmente investir em recursos humanos,nas pessoas que nasceram lá e levar também gente para lá.
Amazon Sat: Governador, existe na região a informação que o senhor não vê com bons olhos a Zona Franca de Manaus. A quê que o senhor atribui essa percepção dos amazônidas?
José Serra: Não é uma percepção, é coisa de política. Eu nunca fiz nada hostil em relação a Zona Franca, que aliás emprega praticamente cem mil pessoas. Pelo contrário, quando fui ministro do planejamento, fizemos um tremendo trabalho de saneamento da Zona Franca, na Suframa, e a fortalecemos. Havia muitas angulações, desvios, mas nós colocamos nos eixos. Na época, tive uma intensa assistência do senador Arthur Virgilio, que como parlamentar da Amazônia é um brigador pela Amazônia, na época e depois. O que nós queremos, o que eu quero, é fortalecer a Zona Franca. Eu acho que precisa ter uma indústria, um polo complementar de produção, para acontecer com os outros setores o que acontece com o de motocicleta. Temos que dar mais incentivo para isso, para gerar mais emprego, para produzir, porque quanto mais peças e partes forem produzidas em Manaus, mais emprego vai gerar. Eu acho que é preciso construir um novo porto para Manaus. Acho, além do mais, que todo o sistema de transporte na Amazônia tem que ser dinamizado, principalmente o hidroviário, com embarcações modernas. Em São Paulo, quando ainda era secretário, capitalizei e fortalecia a ideia da hidrovia Tietê-Paraná que hoje é uma realidade, e que foi uma iniciativa que tomei há muitos anos. Eu sou fanático desse tipo de transporte. Como nós fizemos na saúde, fortalecemos a assistência por hidrovias, até com navios da Marinha. A Zona Franca precisa que ser fortalecida. É uma realidade que gera empregos, o que é muito importante, e ajuda a preservar a floresta. Você já imaginou se toda essa gente que trabalha lá não tivesse essa opção? Iria pra onde? Iria para a floresta. Então quando se analisa a Zona Franca, é preciso pensar em um patrimônio que está sendo preservado e que vale muito.O Arthur Virgilio tem uma ementa constitucional prorrogando, novamente a vigência da Zona Franca. Sou a favor, mas no Governo, se eu chegar como espero, eu vou mais longe, tornando a Zona Franca perene. Não é preciso ficar renovando constantemente seu período de duração. Ela já está consolidada e já tem uma certa divisão de trabalho com o resto do Brasil. Portanto, eu tiraria essa coisa de que seu tempo vale até tanto. Tem a Zona Franca na Constituição, ou seja, tornaria a Zona Franca permanente. Depois as leis é que vão se adaptando à Zona Franca, a evolução de Brasil, da própria Amazônia. Estou com essa ideia já há algum tempo e deixei pra dizer a respeito dela aqui nessa entrevista.
Amazon Sat: O compromisso então é de Governo, caso o senhor seja eleito, que está assumindo com os amazônidas?
José Serra: Mais do que um compromisso, é uma decisão, porque eu pensei bastante a esse respeito.
Amazon Sat: O senhor falou em alguns projetos voltados pra região enquanto foi ministro da saúde. Como o senhor trabalhou enquanto era ministro para as questões da nossa região?
José Serra: Nós aumentamos muito os recursos. Aumentamos duas vezes e meia os recursos do SUS na minha gestão, para a região Norte. Foi o maior aumento que houve na história. Havia Estados, como o Amapá, que não tinha nada. O que eu estou dando é uma média. Nenhum lugar deixou de dobrar e em alguns lugares foi mais longe, como Amapá e Roraima, que estavam realmente muito para trás nessa história.No Pará houve mais de R$ 90 milhões em investimento hospitalares. Aumentamos também os recursos para atenção de média e alta complexidade. Na Amazônia há grandes distâncias. Se não há investimentos em hospitais,as pessoas precisam viajar, pegar avião, pra se tratar em outra parte, no Sul, em Belém ou em Manaus. Realmente fizemos um trabalho cuidadoso e até carinhoso nessa matéria da saúde. Fizemos também um programa de saneamento, o "Saneamento Alvorada",que investiu nos municípios mais pobres. Os prefeitos são testemunhas disso. Dinheiro a fundo perdido. Eu reuni com os prefeitos aqui e em Brasília. A verba foi liberada pelo índice de desenvolvimento humano.Não foi patrocínio político,mas os políticos participaram, como o Arthur Virgilio. Na época, o Amazonino Mendes era governador.Todos participaram de uma coisa construtiva.
Amazon Sat: Obrigada pela presença nos nossos estúdios e obrigada pela entrevista.
José Serra: Se alguém tem que agradecer sou eu. Eu topo voltar aqui antes da eleição e, sendo eleito, topo vir aqui antes da posse. (Fonte:Amazon Sat).




Nenhum comentário: