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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Empresário diz que grupo ligado a
Erenice Guerra queria R$ 5 milhões

Brasilia - A demissão de Erenice Guerra não encerra as investigações na Casa Civil. A ex-ministra entregou o cargo, depois de uma série de denúncias de tráfico de influência dentro do governo. Ela nega as acusações.
A reportagem da Folha de São Paulo, publicada na quinta-feira (16), acusa Israel Guerra, filho da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, de cobrar comissão para liberar uma linha de crédito no BNDES, um banco estatal.
A acusação foi feita pelo consultor Rubnei Quícoli, que trabalhava para a EDRB, uma empresa localizada em Campinas, interior de São Paulo, que tinha um projeto de energia solar para o Nordeste.
De acordo com Quícoli, a EDRB precisava de R$ 9 bilhões do BNDES e teria sido aconselhada a procurar uma empresa que poderia facilitar o negócio, a Capital, consultoria que tem como um dos sócios Saulo Guerra, outro filho de Erenice.
Uma mensagem de e-mail mostra que representantes da EDRB fizeram uma reunião na Casa Civil, em novembro passado, para tratar do assunto. Erenice era ainda secretaria-executiva. A ministra era Dilma Roussef. Quícoli confirmou a reunião.
A reunião também foi confirmada pelo governo. Mas ele negou que Erenice tenha participado do encontro.
Depois dessa reunião, a empresa do filho de Erenice teria cobrado um preço alto para viabilizar o empréstimo, de acordo com um contrato a que os repórteres tiveram acesso: seis prestações mensais de R$ 40 mil. E ainda seriam pagos mais 5% do valor do empréstimo – R$ 450 milhões - se o negócio se concretizasse.
Quícoli afirma que a empresa se sentiu chantageada e acabou com as negociações em março deste ano. Logo depois, outro intermediário do negócio, Marco Antonio Oliveira, ex-diretor dos Correios, também teria pedido propina para pagar dívida de campanha.
“A última conversa em que eu estive com Marco Antonio, ele me pediu R$ 5 milhões e desses R$ 5 milhões seria para pagar alguma conta da então candidata Dilma (Rousseff), da ex-ministra Erenice Guerra e também para ajudar o candidato Hélio Costa, de Minas Gerais. Eu neguei tudo isso aí, não quis participar disso. Eles insistiram nesse dinheiro para poder sair o projeto. Foi quando o Marco Antonio disse para mim que o Israel Guerra, o filho da ministra Erenice, disse que seu eu não pagasse não sairia o projeto mais”, diz Quícoli.
Os donos da EDRB afirmam que nunca pagaram a propina. Quícoli, que respondeu a processos por receptação de produtos roubados e por coerção a uma testemunha e chegou a passar dez meses preso, disse que a denúncia não tem motivações políticas.
“Nunca, nunca falei com Serra, com Marina, sou filiado ao Greenpeace. Aos 18 anos pertenci ao PDT e PSDB. Houve filiação mas não sei se foi concretizada em cartório”, diz o empresário.
O BNDES repudiou em nota a insinuação de envolvimento em suposto esquema de favorecimento. O empréstimo, de R$ 2,250 bilhões e não R$ 9 bilhões, teria sido negado entre outra razões, porque era incompatível com o porte da empresa EBDR.
Outra afirmação de Quícoli é que as negociações teriam sido intermediadas também por Vinícius Castro, ex-assessor da Casa Civil. Ele foi exonerado segunda-feira passada por causa de outra denúncia que envolve o ministério, Erenice Guerra, seu filho Israel e a empresa Capital. O caso é investigado pela Polícia Federal.
De acordo com a denúncia publicada pela revista Veja desta semana. Israel e Vinícius teriam facilitado a renovação de um contrato da empresa aérea MTA, que presta serviços aos Correios.
A afirmação é feita por Fábio Baracat, que atuou como representante da empresa. À revista ele disse que foi informado de que para conseguir os negócios era necessário falar com Israel Guerra e seus sócios. Bastava pagar.
“Minha mãe resolve”, teria dito israel.
Baracat contou que esteve no apartamento funcional de Erenice, quando ela era secretária-executiva da Casa Civil. Para ele, Erenice teria deixado evidente que o filho e o sócio falavam com aval dela.
Em resposta à revista, o próprio Israel Guerra afirma que levou Baracat à casa da mãe, mas na condição de amigo. Também em resposta à revista, Erenice disse que estava sendo caluniada. Ela negou as acusações e falou em processar a revista.
Em nota, Baracat desmentiu a reportagem no fim de semana. Mas ele confirmou que atuou em defesa da MTA, que conhece o filho de Erenice e ainda, que havia uma cláusula e pagamento por sucesso da operação.
Israel Guerra admitiu à revista que construiu argumentação e embasamento legal para a renovação da licença da MTA na Agência Nacional de Aviação Civil, mas negou ter praticado tráfico de influência.
A revista veja publicou um contrato de prestação de assessoria feito com a mesma empresa do filho de Erenice. A contratante é uma empresa de transporte, que nega conhecer o contrato.
O documento tem cláusulas bem parecidas com as do contrato publicado ontem (16) pela Folha de São Paulo. Só o pagamento é diferente: R$ 24.738 de remuneração e mais 6% do que a Capital conseguir junto a instituições.
Desativada recentemente, a sede da Capital ficava numa casa no Distrito Federal -- o mesmo endereço de Israel.
A empresa EDRB soltou uma nota afirmando que a denúncia publicada hoje pela Folha de São Paulo é de responsabilidade do senhor Rubnei Quíloli e que ele não responde legalmente pela empresa.
Mas em entrevista ao repórter Alan Severiano, em Campinas, Aldo Wagner, um dos donos da empresa acabaram por confirmar que houve sim, cobrança de dinheiro para que o negócio fosse adiante.
“Por que vocês resolveram não fechar o contrato que foi sugerido pela empresa de intermediação?”
“Porque a gente não concorda.”
“Por que motivo?”
“O pagamento do dinheiro, só isso.”
“Vocês tinham a informação de que havia também a cobrança de 5% do valor total?”
“Não, não tínhamos essa informação, não.”
“Essa informação está no contrato que foi apresentado ao senhor no dia da reunião?”
“Sim (titubeia)... ele veio depois... depois da... a gente só soube depois, não durante.
“Em que momento o senhor soube? O senhor soube depois de negar o contrato, foi isso?
“Sim, mas o contrato apareceu depois da reunião. A gente só leu a primeira parte. Quando chegou determinado ponto, a gente disse até aqui não dá para continuar mais. Encerramos o negócio”.
O candidato do PMDB a governador de Minas Gerais, Hélio Costa, divulgou nota em que afirma que o consultor é um indivíduo de reputação comprometida pelo envolvimento com roubo e receptação de dinheiro falso. Hélio Costa disse ainda que vai processar Quícoli por tentar envolver o nome de Dilma Rousseff e o dele numa denúncia caluniosa.
A Polícia Federal instaurou inquérito contra o filho de Erenice com base na reportagem da revista Veja. Os depoimentos devem começar na semana que vem. Ainda não se sabe se Erenice Guerra será convocada a depor. Agora que ela deixou de ser ministra, ela poderá ser investigada sem necessidade de autorização do supremo tribunal federal.(G-1)



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