Aquecimento global: então, é tudo mentira?
O que se sabe sobre o aquecimento global até hoje parece que não é bem assim. A noticia não é nova, mas os reflexos continuam a ressoar. Pelo menos duas noticias - a respeito do aquecimento global - seriam mentirosos ou, pelo menos, manipulados. Esta, pelo menos, é a conclusão que se chegou no final do último ano e início de 2010. Em suma, a denúncia foi de que as catástrofes ambientais observadas nos últimos cinco anos não teriam uma relação direta com as atividades humanas – como defendem os cientistas – mas a outros fatores, bem diferentes. Para confundir ainda mais, haveria dados que mostram que a terra estaria na verdade esfriando (!!!). Dá pra entender? Para o grande público, pouco interessado em dados científicos ou mesmo não familiarizados com os mesmo, fica a lição de que ninguém é tão sábio que não possa errar.
Mais munição aos céticos
Bem, de qualquer maneira, a noticia da fraude nos dados sobre o aquecimento global foi um presente àqueles (poucos) que argumentam ser o aquecimento atmosférico um fenômeno “cíclico” e natural: as emissões dos gases causadores do efeito estufa seria apenas mais um fator, e não o principal. Eram vozes dissonantes e solitárias - e por que não dizer corajosas -, pois quem se levantasse contra a hipótese de que o aquecimento global era ação humana era totalmente execrado.
Apesar da máxima de que nadar contra maré é sempre mais difícil, há muita gente apostando o que for necessário que as atividades industriais, ao longo dos últimos 300 anos, não tem nenhuma culpa no cartório. Não seria difícil enumerar os grupos que levantam esta bandeira: indústria do petróleo, mineração, agropecuária etc. Não é surpresa que o movimento daqueles que duvidam tem crescido e vai além da indústria. Uma busca rápida na internet leva a pelo menos dez sítios eletrônicos que atualizam noticias sobre o tema (nas principais línguas).
A quem interessa?
Vale tecer breves palavras sobre como é que as (in) certezas sobre o tema são divulgadas. Há um grupo de especialistas sobre o assunto, um número razoável de 2.500 cientistas em todo o mundo (dois deles inclusive em Manaus). Os artigos (textos que apresentam resultados com metodologia própria) são analisados e as tendências gerais sumarizadas em um relatório. A questão é que – segundo os críticos – não há um controle correto de como estes dados são analisados, o que daria margens para erros, fraudes ou mesmo má fé.
Em tese, há cientista que usa de sua reputação - e do espaço dado pelas grandes financiadoras - para obter recursos para suas pesquisas. Até que ponto isso seria verdade? Difícil saber, mas não é impossível, uma vez que se trata de mexer no ego do ser humano.
Escrevi um pequeno ensaio sobre a quem interessaria o aquecimento global - disponível a quem possa interessar no “Observatório da Imprensa” - , ainda no ano de 2007; à época não havia a menor suspeita sobre os dados científicos, embora havia ceticismo sobre os causadores do aquecimento (http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=424OFC001). Na oportunidade falávamos que havia muita gente interessada em que fosse batido o martelo sobre a culpa do ser humano no fenômeno.
A dúvida e a verdade
A dúvida, o contraditório e mesmo uma simples opinião diferente são bem vindos e fazem crescer o entendimento sobre determinados assuntos. Erros acontecem em qualquer campo do conhecimento ou da atividade humana. Não seria diferente no ramo da ciência (apesar de haver formas de tentar controlá-los).
A questão é que a esmagadora maioria dos artigos publicados corroboram a idéia de que há um aquecimento em função da ação humana. Sim, há artigos que foram, digamos, “maquiados” para tentar aumentar a certeza ou causar mais alarme. Tanto que alguns cientistas, autores destes artigos, já confirmaram a tendência de “mudar levemente” os dados para reforçar suas crenças cientificas. Mas, no todo, os dados são consistentes.
Reafirmo o que escrevi há três anos: acredito no método científico e as provas são muito fortes – embora não queira usar a expressão “irrefutável”, por ser algo determinista e, até certo ponto perigosa.
Mas, pintar o quadro do aquecimento global com as cores da mentira não é algo simples de ser feito. O ideal, assim com quase tudo na vida, é o bom senso. Informar-se, nas mais variadas fontes, e guardar a divulgação de mais um relatório que virá em breve. Talvez o que se aproxima com a cara mentira pode ser sim verdade.
*Ronaldo Santos é engenheiro-agronômo, servidor de carreira do INCRA e escreve sempre neste endereço.
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