Pesquisar este blog

domingo, 23 de maio de 2010

Rios vistos como saída para caos no trânsito


Belem, PA - Quase todo paraense deve conhecer os célebres versos: “esse rio é minha rua, minha e tua mururé”, de Paulo André e Ruy Barata, que fazem alusão aos rios da região amazônica. A menção não é à toa, já que, ao redor de Belém, os rios são as vias de tráfego mais comuns, mas, infelizmente, ainda mal exploradas diante do seu potencial. Pensando nesse melhor aproveitamento, nas demandas, nos tipos de embarcações e na situação portuária da cidade, foi elaborado o Projeto de Demanda Potencial e Formação de Rede Rodofluvial na Região Metropolitana de Belém (D-Fluvial).
Desenvolvido ao longo de três anos, de 2007 a 2009, o Projeto foi realizado pela Universidade da Amazônia (Unama) e pela Universidade Federal do Pará (UFPA). A coordenação geral foi da professora Maisa Sales Gama Tobias, pela Unama, e a cocoordenação de Patrícia Bittencourt Neves, professora da Faculdade de Engenharia Civil da UFPA. Ainda integraram a equipe os professores Benedito Coutinho Neto (Unama) e Hito Braga de Moraes (UFPA).
De acordo com o Projeto, a exploração da potencialidade hidroviária da região promoveria uma maior integração das ilhas vizinhas com o continente, além da diminuição dos congestionamentos nas rodovias da Região Metropolitana de Belém (RMB), diminuindo, também, estresse, poluição sonora, atmosférica e eventuais acidentes que ocorrem no sistema de transporte público rodoviário.
O estudo envolveu as 47 ilhas da RMB. Foram feitas pesquisas em domicílios, nos atracadouros, nos portos e nos locais de embarque e desembarque do sistema de transporte coletivo de Belém para verificar as linhas que potencialmente poderiam integrar um sistema hidroviário. Ao final do levantamento, foi gerado um banco de dados considerável. A grande dificuldade é reduzir tempo de viagem e tarifa
De acordo com as projeções apontadas pelos estudos do Via Metrópole, as pessoas que gastam quase uma hora para se deslocar de um bairro periférico para o centro de Belém precisarão do dobro de tempo em 2012, considerando o aumento populacional e suas consequências sobre a frota de veículos em circulação.
O professor Hito Braga, vice-coordenador da Faculdade de Engenharia Naval da UFPA, diz que vários projetos voltados para o transporte hidroviário tentaram identificar a viabilidade das ligações litorâneas, principalmente, entre Icoaraci e Belém. Mas, foi com a iniciativa de um grupo de professores e com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que essas questões puderam ser aprofundadas.
A pesquisa teve dois focos distintos: a ligação Icoaraci-Belém, com a criação de uma rota alternativa ao trânsito Augusto Montenegro-Almirante Barroso e a ligação entre Belém e as ilhas do município. Icoaraci, Cotijuba, ilhas do entorno e do setor sul (região próxima à Universidade) foram locais de observação dos pesquisadores.
“O perfil do passageiro que vai para Cotijuba é de um morador local, que vai vender ou comprar produtos em Icoaraci, ou do turista, que frequenta as praias da Ilha. Já os passageiros que vêm da Ilha do Combu têm perfis diferentes, alguns vêm em busca de atendimento médico, outros estudam em Belém e muitos vêm vender seus produtos. Essas atividades exigem embarcações e terminais diferentes”, explica Hito Braga. De acordo com o pesquisador, são necessários, pelo menos, quatro terminais hidroviários para atender essa população.
A grande questão do transporte fluvial, no entanto, é reduzir o tempo de viagem e estabelecer uma tarifa compatível com a dos ônibus. Algumas iniciativas nos governos passados fracassaram por causa disso. De acordo com o professor, nas gestões de Hélio Gueiros e Edmilson Rodrigues, a linha Ver-o-Peso/UFPA foi implantada, mas não durou muito tempo. A embarcação era muito lenta em comparação ao ônibus.
A intenção não é mudar os hábitos das pessoas, fazendo com que elas deixem de usar o ônibus, mas apresentar rotas complementares com o transporte rodofluvial. Várias cidades pelo mundo já usam o rio como alternativa aos congestionamentos urbanos e Belém, que tem essa vocação, deve se questionar por que não usa. Para Hito Braga, a princípio, pode parecer uma viagem mais longa, pois é preciso contornar a península da cidade, porém, é mais confortável e segura, não há congestionamento, além de poluir muito menos o meio ambiente.
Pronto para ser implementado
O D-Fluvial já foi apresentado em vários congressos internacionais, como no Uruguai, na Áustria, no Peru e em Portugal. Segundo a professora Patrícia Bittencourt, da Faculdade de Engenharia Civil da UFPA, os especialistas em transporte ficam surpresos que, numa região como a nossa, o potencial hidroviário natural não seja explorado para os deslocamentos urbanos.
São poucos corredores de trânsito que ligam o centro à região periférica da cidade. Para tentar solucionar esse problema, o Projeto prevê linhas de cabotagem, com portos ao longo da costa do município, os quais ligariam o Distrito de Icoaraci, o Ver-o-Peso e a UFPA.
Para a professora, mestre em Engenharia de Transportes e doutoranda em Engenharia de Recursos Naturais na Amazônia, a pesquisa também apontou a promoção dos meios de transporte não motorizados, uma tendência mundial e uma política do Plano Nacional de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades. “Esse projeto é a nossa contribuição para a sociedade. Cumprimos o nosso papel, em vez de ficarmos criticando o poder público. Conseguimos fazer uma pesquisa completa, uma vez que chegamos aos projetos básicos do terminal hidroviário e da embarcação, levantamos a demanda e estabelecemos as rotas. A UFPA, como Instituição, dá uma grande contribuição para Belém com esse trabalho”, enfatiza Patrícia Bittencourt.
O que poderá ser aplicado na capital paranese, poderá perfeitamente ser viabilizado em Manaus, com lanchas-voadeiras fazendo o transporte de passageiros, a exemplos dos ônibus para diferentes pontos da cidade, onde é possível se chegar por água. Fonte: UFPA/Jornal Beira do Rio

Nenhum comentário: