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sábado, 29 de maio de 2010

Weggis 2006 X Joanesburgo 2010

Oba-oba de Weggis dá lugar à
privacidade e dedicação dos atletas


Joanesburgo, Africa do Sul - Weggis é uma palavra que causa mal-estar na CBF. A bela e pacata cidade suíça de cerca de cinco mil habitantes entrou para a história do futebol brasileiro como sinônimo de festa, desorganização e exposição exagerada dos jogadores. E virou a grande vilã pelo fracasso da seleção na Copa do Mundo de 2006. Um clima de carnaval fora de época que passou a ser combatido quatro anos depois. Dunga gosta de se referir àquela preparação como exemplo de tudo o que não se pode fazer antes de um Mundial.
- É lógico que não vamos deixar que aconteça aqui tudo que eu vi e ouvi falar de Weggis - disse Dunga na primeira entrevista coletiva em Joanesburgo.
A mudança vai além da blindagem e do isolamento dos jogadores. Dunga fez questão de fechar com um grupo disciplinado, não tão chegado a badalações, focado em um objetivo. Quem não se enquadrou ficou pelo caminho.
Em 2006 vários jogadores se apresentaram ao técnico Carlos Alberto Parreira fora de forma. Ronaldo foi o maior exemplo. Chegou a Weggis perto dos 95kg. Nove a mais do que o peso ideal da Copa de 2002. Adriano também estava longe do ideal. Mas, na época, a comissão técnica preferia minimizar o assunto.
Dunga procurou tratar o assunto com cuidado. Avisou ao grupo que quem não se cuidasse estaria fora da Copa. O maior exemplo foi Adriano, que faltou a 13 treinos no Flamengo neste ano, teve muitos problemas pessoais e não conseguiu entrar em forma durante a temporada. A seleção se apresentou sem um jogador, aparentemente, estar acima do peso. Neste sábado, todos os atletas fizeram o mesmo trabalho físico. Ninguém está com uma programação especial.
Na convocação para a Copa, o técnico deixou clara a opção pela dedicação integral à seleção.
- Eu adoro o Adriano, nós tentamos de todas as formas. Meu coração falou uma coisa, mas tem uma hora em que é preciso seguir a razão. Não poderia correr o risco de perder o grupo. Demos inúmeras oportunidades para ele recuperar a autoestima, a confiança - disse o treinador no dia da convocação para a Copa do Mundo.
Ronaldo, com barriga saliente, em 2006. Outros jogadores também chegaram bem acima do peso...
...Seleção se apresentou sem ninguém, aparentemente, fora de forma. Acima do peso, Adriano ficou fora
Torcedora invade o campo para abraçar Ronaldinho. Foram várias outras tentativas, mas sem sucesso...
...Em Joanesburgo, jogadores treinam longe dos torcedores e não são incomodados durante a atividade
Na "zona mista", vários jogadores conversavam com a imprensa todos os dias antes dos treinos...
...Em 2010, as "coletivas" predominam. Dois jogadores escolhidos pela CBF falam por dia com os jornalistas
Após os treinos, jogadores perdiam muito tempo distribuindo autógrafos antes de voltar para o hotel...
...Agora, até os estudantes da escola em que a seleção treina são orientados a não ficar observando o campo
Estádio em Weggis lotado para o treino da seleção. Houve até venda de ingressos...
...Em Joanesburgo, treino da seleção fechado sem o acesso dos torcedores
Em Weggis, uma grade e uma tela protegeram o hotel. Era possível ver os quartos da rua...
...The Fairway fica em um complexo privado e mesmo os sócios não tem visão do hotel por causa da proteção
Em 2006, houve o que a CBF classificou com um "Big Brother" com a seleção. Agora, Dunga resolveu blindar o grupo. Nada de torcedores, nada de exposição excessiva. Os treinos não podem ser transmitidos ao vivo, as entrevistas são bem limitadas. Nada de zona mista, quando de seis a oito jogadores passavam por um corredor cheio de jornalistas para dar entrevistas todos os dias. Em Joanesburgo, o contato só é feito por meio de coletivas. Normalmente dois jogadores escolhidos pela assessoria de imprensa. Neste sábado, não houve nem isso. Silêncio.
- Quero que vocês reflitam se são necessárias várias câmeras apontadas para os quartos dos jogadores. O "Big Brother" de Weggis não foi criado por nós, mas sim, pelos meios de comunicação, pelas novas tecnologias - disse o diretor de comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, no primeiro dia em Joanesburgo, após ver câmeras e máquinas fotográficas viradas para o hotel da seleção.
Os 13 dias em Weggis tiveram treinos com venda de ingressos, arquibancadas lotadas. Os torcedores vibravam a cada lance e aplaudiam qualquer reação dos jogadores. Antes e depois das atividades uma sessão de shows de malabarismos com a bola. Os jogadores eram tratados como estrelas, perdiam quase uma hora distribuindo autógrafos. Pelo menos sete torcedores tentaram invadir o gramado do local de treinos. Uma conseguiu, para delírio do público, e enlouquecida agarrou e deu um beijo em Ronaldinho Gaúcho, que estava deitado no gramado na fase final de alongamento.
- Vamos dar o peso que o fato merece. Não deveria ter acontecido, mas não nos afetou em nada. Serviu até para descontrair o ambiente e deu notícia para vocês (da imprensa) - disse o supervisor Américo Faria na época.
O discurso, hoje, é diferente. O acesso à seleção brasileira tem sido um dos principais temas neste início de preparação. Os torcedores, por ora, não puderam ver os treinos em Joanesburgo - em Curitiba, foram três treinos abertos. Até os alunos da Randburg High School - local em que os jogadores estão trabalhando - foram orientados a não se aproximar do campo onde estava a seleção brasileira para observar a atividade.
O "The Fairway", hotel onde a delegação está hospedada, fica dentro do complexo de um clube de golfe. Em volta, um grande tapume foi montado para garantir a privacidade e evitar a visibilidade. O acesso ao local é bastante controlado. Bem diferente do que aconteceu no Park Hotel Weggis, o cinco estrelas onde a seleção ficou há quatro anos. A única medida na época foi a instalação de uma baixa grade para evitar o acesso de quem passava pela rua. Qualquer pessoa conseguia ver, por exemplo, as janelas dos quartos dos jogadores.
- Apesar das limitações, a seleção brasileira é uma das mais abertas do mundo ainda. Não tenha dúvida que 2006 foi um fator fundamental para a mudança de comportamento. A CBF foi muito criticada por ter muitos torcedores e jornalistas nos treinos. O assédio agora praticamente não existe pelas limitações que criamos de acesso - disse Rodrigo Paiva.
Neste sábado, os jogadores foram liberados pela primeira vez para sair da concentração. Mas Dunga proibiu badalações e marcou hora para todo mundo voltar: 22h (17h de Brasília). Kaká, Julio Baptista e Julio Cesar preferiram ficar jogando golfe. Luis Fabiano, Elano, Gomes, Grafite, Doni, Felipe Melo e Gilberto Silva foram passear rapidamente em um shopping. Entraram em uma loja de eletrônicos e tomaram sorvete. Em Weggis, tudo foi diferente. Ronaldo, Roberto Carlos, Adriano, Emerson e outros jogadores curtiram a noite de Lucerna, uma boêmia cidade suíça localizada a 30 minutos da concentração.
No dia seguinte, os jogadores estavam na capa do jornal suíço "Blick". Ronaldo brincava de DJ. Emerson e Roberto Carlos apareciam ao lado de mulheres. A presença na boate Night Live causou mal-estar com a comissão técnica. Algumas fotos dos craques em 2006.(G.Esporte)



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