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sexta-feira, 26 de agosto de 2011


OS VOOS SURDOS E MUDOS NA
AMAZÔNIA, SÀO GUIADOS POR DEUS



Amazonianarede/Osny Araújo
Jorge Negreiros, presidente do Sindicato dos Aeroviários,AM

Manaus - Voar na Amazônia utilizando a chamada aviação regional, com as pequenas companhias, proprietários dos chamados teco-tecos e outros do tipo que funcionam nos aeroclubes, é sinônimo de perigo e risco de vida no ar.

 Nesses vôos, somente a pericia, a coragem e a fé em Deus, levam e trazem as pequenas aeronaves de volta, se bem, que de vez em quando são registrados acidentes.

A reportagem do Amazonianarede participou recentemente de um desses vôos e testemunhou de perto o trabalho e a perícia do piloto e a agonia dos passageiros que passam a viagem inteira ouvindo mensagens pelo rádio, onde os pilotos tentam se comunicar com Manaus, com o chamado Centro Amazônico e não conseguem isso, aqui bem próximo a capital, num raio de menos de 80 km.

Como sempre, fui de carona na cadeira do “co-piloto” uma vez que os pequenos aviões viajam sem esse profissional, infringindo todas as regras da própria Aeronáutica e as regras da própria vida, quando são colocadas em risco as vidas dos tripulantes e dos passageiros, sem que as companhias proprietários dos aviões e a própria Agência Nacional de Aviação tomem qualquer providência para sanar tamanha irregularidade.

Na verdade, voar em aeronaves regionais pela Amazônia é um enfrentamento ao perigo em todos os sentidos e rezar para que Deus pilote a aeronave e que a viagem transcorra sem anormalidade. E seja o que Deus quiser.

Semana passada  embarquei num desses aviões cruzando o Oeste amazônico com destino a cidade de Lábrea, na calha do Purus, num vôo de aproximadamente 2h20m num avião tipo Seneca e como “co-piloto” sempre costumo puxar um papo com o piloto, quando o vôo transcorre com normalidade, como acontecia naquela oportunidade, mas, vez por outra observava que o piloto tentava fazer uma ponte com rádios de outros aviões para tentar falar com o Centro Amazônico e comecei a puxar o assunto com o piloto, para saber por que aquele procedimento estranho e quando ele soube que o que o seu “co-piloto” era um jornalista, disse: Isto amigo dá uma excelente matéria”. O fato me chamou a atenção e comei a procurar saber mais alguns detalhes para elaborar uma reportagem que espero seja do interesse público e das autoridades ligadas ao setor.

O piloto que pediu anonimato para não sofrer represálias por parte da empresa e da própria ANAC, disse que esse drama da falta de comunicação com o Centro Amazônico que funciona em Manaus é diário e isso já faz muito tempo e nem mesmo o choque que provocou o acidente entre o Legasse e o avião da Gol, provocando muitas mortes, ocorrido a pouco mais de dois anos, serviu para que as autoridades ligadas ao setor resolvessem o problema. Segundo o piloto, tudo continua como antes e nada foi feito.



SURDO E MUDO



O fato, é que quando a aeronave atingiu a marca de aproximadamente cem milhas voadas, aqui ainda bem próximo a Manaus, cerca de menos de 80 km de distância e a uma altitude de 10.500 pés, aproximadamente 3.100 metros e cerca de 24 minutos de vôo, o piloto acenou que já havia perdido a comunicação com o Centro Amazônico em Manaus, através do radio e aí, só mesmo o radar, o GPS e Deus, poderiam nos ajudar nessa difícil navegação aérea, surda e muda, uma vez que o piloto não ouvia e nem era ouvido em Manaus, caso necessitasse de alguma instrução durante o vôo.

 e nem conseguiu ouvir algumas possíveis instruções do Centro Amazônico, Essa anormalidade na opinião do jovem, porem experiente comandante da aeronave, representa um grande risco para a aviação e segundo ele, o Centro Amazônico “só serve mesmo para orientar o pouco e a decolagem das aeronaves e nada mais”.

Os vôos na Amazônia na aviação regional, só não são mudos, surdos e cegos, porque o sistema de Radar do SIVAM funciona com precisão, por isso, foi elogiado pelo piloto. “Felizmente temos o sistema de RADAR que é muito bom e por onde estivermos estão nos vendo e isso dá um certo alívio, na falta de comunicação pelo radio com o Centro Amazônico.



AEROPORTOS



Como se não bastasse os problemas enfrentados por pilotos e passageiros no ar, nessa viagem de aventura pelos céus amazônicos, onde a comunicação não existe à distância com o Centro Amazônico pela sua precariedade, os pilotos têm que fazer malabarismo para pousar e decolar em vários aeroportos das pequenas cidades do Amazonas, onde não contam com a menor infraestrutura.

O ano passado me recorde muito bem, pousei numa cidadezinha do interior, no rio Purus, que logo após saltarmos do avião, um caminhão desfilava pela pista do pequeno um aeroporto, isso sem contar com os animais, especialmente cães que ficam perambulando pela pista onde os aviões pousam e decolam. O fato é outro grande perigo para a aviação e causa muita preocupação aos pilotos em terra, como se não bastasse o sufoco sofrido no ar.



DENÚNCIAS DO SINDICATO



Procurado pela reportagem para se manifestar a respeito da questão, o presidente do Sindicato dos Aeroviários do Amazonas, Jorge Negreiros, reconheceu todo o perigo do que representa voar na Amazônia na chamada aviação regional e garantiu que o Sindicato já fez várias denuncias para as autoridades competentes, a começar pela ANAC, mídia e outros meios para tentar pelo menos amenizar o grave problema e nunca conseguiu êxito.

Negreiros  chegou a pensar que após o grave acidente com o Legasse e o Boeing da Gol a questão seria vista com mais responsabilidade, mas segundo ele, nada foi feito para pelo menos amenizar o problema. “Tudo continua como estava e os riscos nos vôos permanecem diariamente ”afirmou.

Disse ainda que o Sindicato não tem mais o que fazer a respeito do assunto. “O que tínhamos que fazer já fizemos que era denunciar as autoridades competentes, a começar pela ANAC e alertar as autoridades para o fato, por isso, entendemos que a responsabilidade é inteiramente das autoridades. O Sindicato cumpriu com o seu papel. Fez o que pode e o que devia fazer, no mais, é torcer para que graves acidentes não ocorram”.



SEM CO-PILOTO


Para Negreiros, a aviação regional é vista como uma aviação marginalizada pelas próprias autoridades e vive de arremedos e arranjos, sem a mão protetora do Governo e com isso, os passageiros e as tripulantes correrem riscos de vida diáriariamente voando pelos céus da Amazônia.

Disse ainda que vê como criminosa as empresas de aviação regional não colocarem co-pilotos nos seus vôos e segundo ele, apenas para auferirem maiores lucros, uma vez que o avião ganha um passageiro a mais, a empresa deixa de contratar mais um profissional, de pagar menos encargos sociais e por aí vai.

 Esse problema  também já levamos ao conhecimento das autoridades, mas até o momento nada aconteceu e os pequenos aviões continuam decolando levando um passageiro na vaga do co-piloto, fato que segundo ele, não agrada aos comandantes das pequenas aeronaves.

Segundo Negreiros, os pilotos sentem falta dos co-pilotos, mas não podem reclamar porque correm o risco de perderem os empregos e dessa forma, são obrigados a conviver com essa gritante irregularidade na nossa aviação regional.



VONTADE POLÍTICA



Para o presidente do Sindicato, os problemas nesse tipo de aviação continuam e podem durar ainda muito tempo para serem solucionados. “Talvez, que Deus nos livre, quando ocorrerem outros acidentes graves, como foi o caso do Legasse, as autoridades se conscientizem de alguma coisa precisa ser feita para dar mais segurança à aviação brasileira, especialmente à chamada aviação regional, tão utilizada em nosso Estado”.

Para a medicina, um avião decolar para uma viagem, ainda mais longa sem um co-piloto é uma irresponsabilidade grande, considerando que o profissional que pilota o avião, como qualquer ser humano está passivo a sofrer algum mal estar ou mesmo um AVC ou ainda um ataque cardíaco ou um colapso, que poderá provocar a morte em poucos minutos. No solo, as coisas se resolvem pessoas não habilitadas, que poderão, por exemplo, tirar a chave do carro e pára a máquina, mas no avião no ar, as coisas não funcionam assim. Lá nas alturas é necessária a presença de um profissional habilitado, com brevê, pronto para voar e saber lidar com o equipamento, mas isso infelizmente não corre na aviação regional.

Negreiros disse ainda saber que a questão é complicada e as soluções não são fáceis e nem baratas, mas precisam ser feitas.

No seu entendimento, o que está faltando por parte das autoridades é responsabilidade e vontade política para atacar o problema de frente e tentar uma solução, ou pelo menos uma grande melhoria, para que todos possam voar com mais segurança e tranqüilidade, num dos meios de transportes que ele ainda considera como um dos seguros do planeta.

Com relação à ANAC, afirmou que a Agência continua fazendo vista grossa aos problemas e aos reclamos da categoria de aeroviários. “Na verdade, quando a ANAC faz alguma coisa é para beneficiar as empresas de aviação e não a categoria e muito menos os usuários do sistema.

Ele concluiu a sua conversa com a reportagem afirmando: “Se os pilotos da aviação regional fossem cumprir todas as normas de segurança para iniciar um vôo, os aviões não sairiam do chão. Na verdade os pilotos são pressionados para voar e como eles precisam do emprego, topam arriscar diariamente as suas vidas e as dos passageiros”- finalizou.

A reportagem tentou várias vezes contatos com a Agencia Nacional de Aviação Civil (ANAC) em Manaus, através o telefone 2129-7800 para se manifestar, mas não logramos êxito, mas estamos ä disposição da Agência para que possa apresentar a sua versão sobre os fatos e especialmente sobre as denúncias feitas pelo presidente do Sindicatos dos Aeroviários do Amazonas Jorge Negreiros.




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