Porquê é fácil ser contra as hidrelétricas
Ronaldo Santos*
A população pouco opina sobre de onde vem a energia consumida em casa – afinal o importante é que se tenha em casa - não importa de onde, e nem como foi obtida. Se fosse possível fazer ume enquete ou pesquisa de opinião num estrato significativo da população a respeito da construção de hidrelétricas no Brasil – em especial na Amazônia – veria-se uma reação certamente contrária.
Os setores das organizações não governamentais são as que mais gritam (em boa parte com razão, mas nem sempre) contra este modelo. Como este segmento da sociedade tem crescido em relevância na opinião publica é de se esperar que a maioria da população siga a mesma tendência.
Em linhas gerais, sustento que é bem mais fácil para um individuo não familiarizado no tema se posicionar contrário à construção de tais obras do que defendê-la (ou admiti-la). Quais os motivos para que isso seja verdadeiro? Elenco alguns que julgo serem os principais, dividas em dois grupos:
1 – Experiências negativas do passado
Barbeiragens em algumas hidrelétricas geraram a “fama de mal” destas obras. A de Balbina, próximo a Manaus, é um exemplo clássico. A inundação de uma área gigante levou a uma catástrofe ambiental. Esta lembrança traz diversas incertezas e medos: como garantir que as novas obras não trarão impactos a fauna, flora e conjunto etino-cultural de algumas regiões?
Temas novos, como emissão de mais gases estufa são ao mesmo tempo levantados quando se falar em inundações de grades áreas. Os estudos ambientais de nada servem aos ambientalistas – ainda que cumprindo os requisitos mínimos solicitados pelo IBAMA.
Obras do passado com inundações de áreas antes habitadas por comunidades. Geralmente estas comunidades são deslocadas para outras áreas e perdem parte ou tudo de sua cultura antepassada (cemitérios, igrejas, plantações locais de memórias familiares etc).
Nesta leva de erros passados lembra-se também do quanto se gastou nas barragens. Ainda hoje, pragueja-se o custo de Itaipú – obra cujo valor final dependeu de endividamento do Brasil, e benesses ao vizinho Paraguai.
Com estes argumentos e com bons profissionais (tanto técnicos quanto jornalistas), as organizações opositoras destas obras conseguem fazer campanha na mídia com certo sucesso. O resultado é que os argumentos contra parecem mais fortalecidos – embora nem sempre isso seja verdadeiro.
2 – Incertezas no futuro
O segundo bloco de motivos para torcer o nariz para as hidrelétricas reside no que estar por vir. Tem-se como certo, pelos opositores, que o represamento de grande massa de água não gerará o beneficio prometido e, pior, gastará dinheiro à toa. De acordo com a versão, a energia seria benefício apenas de empresas do setor energético (grandes consumidoras) e pouco iria para a população. Este argumento é rebatido pela Eletronorte com certa propriedade.
Duas ideologias opostas
Há argumentos fortes dos dois lados. Afinal, quem parece ter a razão?
Daqueles que entendem mais da matéria, podemos dividir, claramente, em dois grupos de diferem em correntes ideológicas. De um lado os desenvolvimentistas baseados em fundamentos do capitalismo: investimentos, lucros, consumo, da economia de mercado, nos dados estatísticos de crescimentos e nas técnicas consolidadas de construção das barragens. São conhecidos como “barrageiros”.
Do outro, tem-se o seguimento das organizações que engrossam a fila do movimento social: clamam por cuidados com populações tradicionais, com o social, com o meio ambiente e geralmente empunham a bandeira do contra-capitalismo. Neste grupo há os moderados, aqueles que até admitem os empreendimentos – desde que sobre os pilares de técnicas que garantam a proteção socioambiental e o repartimento justo dos benefícios. Vê-se, ainda, os socioambientalistas mais radicais: as obras são os tentáculos malvados das grandes corporações e a busca pelo ganho em detrimento da exploração ambiental.
Fio da navalha
O debate passou a ser mais visível na última década e esquentou no governo Lula: a visão dominante na administração do Partido dos Trabalhadores é que o Brasil deve explorar seu potencial hidroenergético. Além disso, os desafios impostos pelo crescimento na economia fizeram com que os setores energéticos pressionassem o uso de todas as fontes de energia – demanda estimada em pelo menos 5% a cada ano.
A administração central tem que fazer malabarismo: atender a demanda energética, não ferir a legislação ambiental, afagar os ambientalistas e barrageiros e, por fim, em ano eleitoral não fazer nada contra a opinião pública. Parece fácil? Não.
Resumidamente, além dos opositores de sempre, o governo passou a contar com a opinião pública contra as obras. Ao contrário das organizações em defesa do sócio-etinoambiental Brasília é ineficiente quando (tenta) defende as hidrelétricas: não tem campanha de mídia e, talvez, não ache importante fazê-lo, uma vez que as obras sairão, afinal.
O importante é que não há contraste entre as duas óticas: é possível a construção de obras que respeitem os direitos da sociedade, das populações e do meio ambiente, ao mesmo tempo que gere a energia que o pais precisa. Há tecnologia e legislação para isso. Carecemos de entendimento, o que talvez seja a parte mais difícil.
*Ronaldo Santos é engenheiro-agronomo, servidor de carreira do INCRA e escreve semopre neste endereço.
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