Agronegócios:
Produção Agropecuária no Amazonas
*Thomaz Meirelles
Nos dias 14 e 15 deste mês, em evento articulado pelo Mapa, Embrapa, Sebrae e Idam, aconteceu o Seminário “Sistemas Agropecuários de Produção Integrada no Amazonas”. Apesar da importância do tema (Alimento Seguro e Produção Sustentável no Amazonas) e de ter ocorrido nas dependências da Assembleia Legislativa identifiquei, nos dois dias, somente a representação política do deputado Luiz Castro e de assessora do deputado Belarmino Lins. Neste momento, ratifico a indiscutível importância do Seminário pelo fato de estarmos num estado importador de gêneros básicos da alimentação e, também, por existir suspeitas de mortes de produtores rurais pelo uso inadequado de defensivos químicos no meio rural. O evento iniciou com a palestra do Diretor do Departamento de Produção e Sustentabilidade do Ministério da Agricultura, Drº Sávio Mendonça, que é amazonense, nascido em Itacoatiara. Ele destacou os seguintes pontos: o SAPI (Sistema Agropecuário de Produção Integrada) é uma boa ferramenta para alavancar a produção local; a necessidade de crédito especial para o Amazonas; lembrou do potencial do cacau em áreas de várzea; destacou a parceria exitosa que a Agropalma vem desenvolvendo com produtores do Pará; sugeriu o uso de emendas parlamentares para melhorar a logística e a infra-estrutura regional, ressaltou a importância do acesso aos créditos e aos programas ofertados pelo Mapa e de uma assistência técnica e extensão rural atuante no campo. Sávio Mendonça divulgou dados preocupantes e que merecem reflexão de toda a sociedade. Entre eles, destaco a existência no mundo de “100 milhões em pobreza absoluta”, “1 bilhão já sofrem com a fome” e, em 2025, “1,8 bilhão de pessoas viverão com a escassez de água”. Afirmou que a infecção por alimento é responsável por 1,8 milhões de mortes no mundo.
“É inadmissível o Amazonas”
Concordei plenamente com o Diretor do Mapa, Sávio Mendonça, quando afirmou que “é inadmissível o Amazonas desperdiçar o potencial de produzir alimentos sustentáveis”. Nesse aspecto, aproveito para, mais uma vez, lembrar algumas atitudes que devem fazer parte da pauta de ações do próximo governador. São elas: ampliar o orçamento do Sistema Sepror/SDS; melhorar o salário e ampliar o quadro do Idam em todos os municípios; finalizar urgentemente o zoneamento econômico ecológico em todo o Estado; dotar todos os municípios do interior com uma instituição bancária oficial a fim de viabilizar ao produtor rural o maior acesso aos bilhões de crédito rural disponibilizados nos planos safras (Empresarial e Agricultura Familiar). É sempre bom lembrar que, durante décadas, estamos ocupando os últimos lugares entre os estados brasileiros no acesso ao crédito rural. Não posso e não devo ser injusto com os avanços dos últimos sete anos, proporcionados pelo Estado (Zona Franca Verde) e pelo Governo Federal, mas, em decorrência da nossa imensa área geográfica, precisamos fortificar e ampliar tudo que deu certo, e incrementar, urgentemente, as sugestões anteriormente relacionadas (orçamento, ZEE, Idam, bancos oficiais).
Exemplos do Pará
Observei, nas apresentações em que tive a grata satisfação de presenciar, o expressivo número de exemplos de sucesso vindos do Pará, sendo fácil concluir que o Amazonas tem muito a apreender com nossos irmãos paraenses. Meu amigo e competente técnico do Estado e da Embrapa, Edson Barcelos, durante mesa de abertura, afirmou que voltou triste de viagem realizada ao interior ao encontrar a mandioca sendo cultivada da mesma forma como há cem anos. “Sem tecnologia, não avançaremos”, afirmou Barcelos.
Citricultura, na opinião de Osíris Silva
No último dia do evento, o economista, citricultor e presidente da Associação Amazonense de Citricultores, Osíres Silva, fez importantes relatos sobre o andamento da atividade em nosso estado diante da experiência adquirida ao longo dos últimos 30 anos. Ressaltou os avanços ocorridos nos últimos anos, mas deu ênfase na falta de dados estatísticos confiáveis do setor; inexistência de especialista em citrus no Amazonas; preço elevado do calcário; distanciamento da pesquisa/assistência técnica/produtor/instituições; concessão de crédito fora da realidade amazônica e dificuldade no tratamento de algumas pragas. Disse, também, que o Amazonas está três anos sem safra e, que, quando entrar a produção de produtores do município de Rio Preto da Eva os preços de mercado da laranja irão desabar podendo gerar desestímulo aos citricultores. Ainda com relação ao mercado, destacou a entrada de laranja vinda do Pará com preço de aquisição do cento em torno de R$ 4,00 e R$ 180/tonelada. Concluiu sua participação no encontro afirmando que “ninguém vai sobreviver ao custo de R$ 8,00 o cento da laranja” e que “o produtor isolado não vai pra frente”.
Órgão de Estatística
Diante da inconsistência dos números do setor rural do Amazonas, entendo ser imprescindível que o próximo governador contemple a máquina pública com a criação de um órgão que possa acompanhar, em números, a economia rural amazonense. Sei que o Idam faz um grande esforço para ter esses dados, mas já tem uma sobrecarga de trabalho que impede acompanhar, com a profundidade e transparência que o setor necessita, as importações, exportações e preços de mercado dos produtos agropecuários. Finalizo, invocando o inesquecível amazonense Eurípedes Ferreira Lins, e também acreditando que “É por aí o caminho”.
*Thomaz A P Silva Meirelles – administrador, funcionário público federal, especialista na gestão da informação do agronegócio e escreve semanalmente neste endereço. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com
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