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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Dilma diz em entrevista ao Amazon
Sat que ZFM deve ser permanente


Brasilia  – A pré-candidata à presidência da República, Dilma Rousseff concedeu entrevista ao programa "Espaço Brasília", do canal Amazon Sat, onde falou de temáticas relacionadas a Amazônia, como as rodovias federais que cortam a região e as propostas de educação para o Norte do país. A ex-ministra contou que se orgulha de ter participado de obras como o gasoduto Coari-Manaus e que se sente preparada para ser a primeira mulher a assumir a presidência do Brasil.
Nascida em Belo Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais, Dilma é filha de um engenheiro e advogado búlgaro e uma professora brasileira. Aos 63 anos, é formada em economia, foi secretária Municipal da Fazenda de Porto Alegre e secretária estadual de Minas e Energia do Rio Grande do Sul. Já no Governo Lula, foi ministra de Minas e Energia e por último ministra-chefe da Casa Civil.
Confira abaixo a entrevista de Dilma Rousseff ao Amazon Sat
Amazon Sat – A senhora já ocupou vários cargos públicos, mas nunca foi eleita e agora concorre a presidência da República. Por que partir para o último degrau?
Dilma Rousseff – Acredito que é muito bom que isso aconteça. Geralmente as pessoas que participam da política têm uma experiência determinada. A minha experiência é de outra forma. Fui servidora pública no sentido rigoroso da palavra. Servi como secretária da fazenda do município, então conheço os problemas das cidades. Os problemas de Porto Alegre são muito similares aos problemas de Manaus, Belém, Rio Branco, Boa Vista e Porto Velho. Ao mesmo tempo, eu conheci os problemas do Estado, servindo como secretária de Minas, Energia e Comunicações do Estado do Rio Grande do Sul por duas vezes. Essas experiências são um laço, porque não conheço somente os problemas da União, mas também aqueles que afetam diretamente as pessoas. Acho que isso me garantiu, do ponto de vista do presidente Lula, a honra da escolha dele, tanto para ministra de Minas e Energia, como para ministra-chefe da Casa Civil. A partir daí eu tive uma grande e importante experiência. Tanto é que acredito que me dediquei bastante a alguns problemas do Norte do país. Tive uma excelente experiência na condução e resolução de problemas no Amazonas. Tenho um orgulho, por exemplo, do gasoduto Urucu-Coari-Manaus, que, em um determinado momento, ninguém acreditava que a gente ia construir, mas saiu. Sinto-me em condições, pelo que eu conheço do Brasil, em pleitear a minha candidatura a presidente. Mas não sou candidata de mim mesma. Sou candidata de um projeto, que iniciou em 2003, no governo Lula, e acho que nós podemos não só manter, mas aprofundar as conquistas e avançar.
Amazon Sat – Hoje a senhora se sente preparada para ocupar o cargo de presidente da República?
Dilma Rousseff – Eu acho que sim. Se eleita, se honrada com o voto do povo, eu seria a primeira mulher presidente. Muitas vezes me perguntam: a mulher está preparada para ser presidente? Eu acho que não somente eu, mas as mulheres estão. E o Brasil também está preparado para uma presidente mulher. Outro dia, uma senhora bem nova, com uma filha chamada Vitória, de uns 7 ou 8 anos, se aproximou de mim e disse: Eu trouxe a Vitória aqui pra que você diga para a ela que mulher pode. Eu perguntei a criança: Vitória, mulher pode o quê? Então a mãe respondeu: Ela quer ser presidente. Eu respondi a menina que mulher pode ser presidente. Então eu acho que a Vitória é o símbolo das mulheres, porque elas podem. E as meninas que nascerem agora vão saber disso. Na minha época de criança, mulher não era presidente. Agora, a época que outras meninas estão nascendo, elas poderão ser.
Amazon Sat – O Governo Lula, do qual a senhora fez parte, vem administrando o país há 8 anos. Durante todos esse tempo, a maioria dos Estados do Norte, pelo menos cinco deles, continuam não fazendo parte do Sistema Interligado Nacional. A senhora pretende elaborar algum projeto que mude essa situação?
Dilma Rousseff – Um dos grandes projetos na área de energia do governo do presidente Lula foi a interligação. Tanto pelo Acre e Rondônia, que era de Vilhena, no Mato Grosso do Sul, até Porto Velho; quanto a interligação por Tucuruí, que ligará o Amapá e o Amazonas ao Sistema Interligado. Essa trajetória já está em projeto e, se ainda não está licitado, deve ser quase imediatamente. A interligação já começou. Eu acredito que vai ser muito importante para os Estados do Norte do país, porque vai ter uma energia robusta. Em Roraima nós vamos ter ainda que completar esse circuito, mas será a partir de Manaus, ou entrando por cima, até que nós façamos um anel no Brasil inteiro. Isso é um projeto de nação, porque nós teremos o país integrado com energia, com a mesma qualidade, do Rio Grande do Sul, passando por São Paulo, Minas Gerais, Bahia e chegando ao Norte, o que nunca houve até então. Além disso, é o Brasil quem vai ganhar, porque a região tem potenciais de energia, como em Rondônia, onde há as hidrelétricas de Girau e Santo Antônio. Existe ainda o gasoduto, que eu tanto me orgulho de ter participado junto com o então governador Eduardo Braga, que foi um dos grandes batalhadores por esse gasoduto e pelo Estado do Amazonas. Nós conseguimos criar uma oferta de gás que é muito importante no Estado. Com tudo isso, o Norte vai funcionar muitas vezes como um exportador de energia para o resto do País. A região vai receber, mas os brasileiros do Nordeste, Centro-oeste, Sudeste e do Sul tem de entender que o Norte também vai contribuir. Essa interligação, em todos os aspectos, não é boa somente para o Norte, mas muito boa para o Brasil, porque a região é talvez umas das regiões mais ricas do país, tanto pela floresta, com pela imensa biodiversidade que temos que manter e aproveitar. Há também o fato que mais de 20 milhões de brasileiros vivem na região amazônica. Nós somos maiores nesta região que vários outros países.
Amazon Sat – A qualidade das estradas na região Norte deixa a desejar. A conclusão da BR-364, por exemplo, que liga Cruzeiro do Sul a Rio Branco é um sonho antigo dos acreanos, que vivem isolados dentro do próprio Estado. Caso a senhora seja eleita, esta estrada será concluída?
Dilma Rousseff – A BR-364 é um dos empreendimentos com maior volume de investimentos, na casa de R$ 1 bilhão. Eu tenho o compromisso de concluir porque ela é uma estrada estratégica para a região. Talvez, se você olhar, ela seja a grande estrada daquela área. A BR-163 é outra grande rodovia e a BR-319 também. Agora, para olhar para a Amazônia, em termos de logística, temos que ver a questão da interligação dos diferentes meios de transportes. É preciso juntar as estradas amazônicas, os rios, que usa um transporte mais barato e menos poluente, já que você não precisa se trafegar com caminhões enormes. Hoje, a maior parte da soja vem pelo Centro-oeste, entra no Rio Madeira e termina por desaguar e sair até o porto, passando pelo Estado do Amazonas até o Pará. Há essa grande vantagem na logística na Amazônia, que é o uso dos rios. Sabe o que nós temos que fazer de forma diferenciada na região? Precisamos juntar os rios, as ferrovias e as rodovias. A ferrovia que atinge atualmente a região é a Norte-sul. Eu acredito que uma integração vai se dar por dois lados. Um deles deve ser pelo Pará, que é uma das áreas mais ricas do país, um dos Estados mais importantes do Brasil, tanto pelo potencial, pelo tamanho como pela população. Outra ligação deve vir por Rondônia, Acre e Amazonas, chegando até Roraima. É este movimento, que é quase um abraço, que vai articular pelo centro a ferrovia Norte-sul e todas as estradas. Também há uma questão logística que acho importantíssima no Amazonas, que é o contorno das cidades. A grande maioria das estradas corta a cidade no meio, criando problemas sérios, como em Porto Velho. Nós temos alguns compromissos já assumidos. A BR-364, em Rondônia; as pontes sobre o Rio Madeira, quanto a travessia de Ji-Paraná, de Pimenta, Bueno, Vilhena, Presidente Médici. Eu pontuei algumas para dar exemplo das que serão estratégicas neste momento, além de completar todas as nossas estradas que estão em processo de construção.
Amazon Sat – E sobre a BR-319?
Dilma Rousseff – Eu acho que é possível fazer o licenciamento da BR-319 respeitando o Meio Ambiente, porque a ideia era fazer uma estrada parque. Somente nesta condição, o Ministério do Meio Ambiente libera a estrada. Há um acordo, inclusive, de concepção única, que é necessário manter essa condição de estrada parque para que haja proteção. É possível proteger o meio ambiente e ao mesmo tempo fazer a estrada. Agora, é muito importante notar também que em Tucuruí, que é a grande hidrelétrica hoje abastecendo o Norte do país, vai ter uma outra situação. Vamos ter Tucuruí e também Girau e Santo Antônio e no meio, Belo Monte. Na verdade, a Amazônia passa a ser, para todos os Estados, uma das regiões mais fortes do país em matéria de geração de energia hidrelétrica, ao mesmo tempo que em Manaus, há condições de substituir o agente poluidor do meio ambiente, no lugar que é a maior reserva de biodiversidade no mundo. Isso acontece fazendo energia não com base no diesel ou no óleo combustível, mas no gás. Então se passa a ter no Amazonas uma vantagem maravilhosa.
Amazon Sat – Falando ainda do Amazonas, Zona Franca de Manaus. Os incentivos fiscais vão até 2023 e já está tramitando no Congresso Nacional uma proposta constitucional que estende esses incentivos até 2033. Qual é o seu projeto para a Zona Franca?
Dilma Rousseff – Vamos lembrar que nós recebemos a Zona Franca sem nenhuma prorrogação. Pelo contrário, havia uma imensa conversa no Brasil para a suspensão de toda a política tributária de incentivos a Manaus. Essa era uma conversa que se ouvia de muitas pessoas que hoje posam de defensoras da Zona Franca. Eu tenho a mesma convicção do presidente Lula: a Zona Franca foi um grande ganho para o Brasil. É um ganho para Amazônia, mas também um ganho pro Brasil. Por isso, em 2003, nós prorrogamos até 2023. Eu acho que essa política tem de ter uma permanência. Interessa levar indústrias poluentes para a Amazônia? Não. Interessa ao Brasil colocar na Amazônia uma indústria que não seja amigável com o Meio Ambiente? Não. Se não houvesse a Zona Franca de Manaus, nós não teríamos nem o desenvolvimento de todas as indústrias produtoras de tecnologia, eletroeletrônicos; nós teríamos indústrias poluentes. A prorrogação tem de deixar de ser temporária e se tornar uma política industrial efetiva, porque é do interesse do país, para o nosso desenvolvimento. Isso nós deixamos claro. É so lembrar a polêmica que houve com a produção de componentes para a TV digital. Queriam que nós liberássemos no resto do Brasil os incentivos para a produção das telas de plasma e de LCD, mas nós nos recusamos. Mesmo sendo algo que não estava previsto inicialmente, nós julgamos que era fundamental manter dentro desta perspectiva. Primeiro mantinham para dar condições de competição para a região, mas hoje eu acho que tem que manter pelas características da região. Se nós temos o compromisso com o desenvolvimento sustentável da Amazônia, temos que manter a Zona Franca de Manaus, o que nós já mostramos que faremos. Na hora da pressão queriam que liberássemos para produção no país inteiro, mas nós entendemos que as condições de produção da área precisa de incentivo e por isso a gente não liberou.
Amazon Sat – As distâncias amazônicas dificultam muitas vezes a implementação de projetos sociais relacionados à educação, saúde, habitação. Como desenvolver essas ações tendo em vista essas peculiaridades da região?
Dilma Rousseff – Até pelo regime de chuvas existem esses problemas, mas acho que temos conseguido superar as dificuldade. Eu vejo por todos os investimentos que nós fizemos. O dia em que me disseram que a cidade que era cercada de água por todos os lados, que é Manaus, não tinha água, eu me dei conta do nível de abandono que se deixou muitas vezes o país. Em parceria com o Estado e a Prefeitura nós fizemos dois projetos na área de fornecimento de água, inclusive um deles emergencial. O que eu noto é a necessidade de que no período que não chove, tenhamos uma grande efetividade de trabalho. Mas também há solução de engenharia. Para construir o gasoduto Coari-Manaus, por exemplo, teve um local com características parecidas com a areia movediça, a ponto de uma draga inteira ter sido engolida pela areia; mas nem isso impediu que se achasse soluções de engenharia. O projeto demorou, talvez, um ano a mais, porque foi usado um helicóptero para pegar os duto, enterrar e completar a construção. Então sempre há uma possibilidade. Eu tenho visto também que muito é vontade política dos governadores. Aí eu quero reconhecer dos governadores e prefeitos da região no sentido de solucionar os problemas da população. Alguns exemplos: na área da habitação, eu acho que tivemos muito bons resultados, tanto que o programa “Minha Casa, Minha Vida” está bem encaminhado, com as metas sendo cumpridas e a previsão da continuidade do programa com a construção de mais casas na segunda fase, com o objetivo de ter 2 milhões de residências no Brasil inteiro. Vai ter uma quantidade suficiente para a região da Amazônia. Mas eu queria destacar que, de fato, muitas vezes você usa barco, porque nas populações mais distantes, não tem outra forma de você chegar. Muitas vezes o grande elemento que você encontra, principalmente nas regiões de fronteira, é o exército, que tem feito na região, através do Comando Militar da Amazônia, um trabalho digno de nota. Isso é possível ver através da prestação de serviço de saúde e de educação. Eu acredito também que essa parceria que nós fizemos com todos os governos estaduais e municipais facilitou, porque quando você dá recursos, se o projeto for bom e se fizer um trabalho bem pensado, detalhadamente, ele dá certo.
Amazon Sat – A região amazônica carece de pesquisadores, doutores e mestres para o desenvolvimento de pesquisas. Se eleita, como a senhora pretende equacionar essa questão?
Dilma Rousseff – Eu vou ampliar o que está sendo feito hoje. No ensino técnico profissional nós abrimos 8,4 mil novas vagas na região inteira. Só no Amazonas, no Instituto Federal Tecnológico do Amazonas foram seis novas unidades em Coari, Lábrea, Maués, Parintins, Presidente Figueiredo e Tabatinga. No Instituto Federal do Pará nós abrimos também novas quatro unidades. O mesmo em Rondônia, Roraima e Tocantins. Isso em ensino técnico, para a profissionalização de força de trabalho capacitada, além do ensino tecnológico de nível universitário. Mas respondendo a pergunta, nós abrimos também universidades. Se não houver universidade qualificada, não há como criar pesquisadores e inovação. Se tem uma coisa que o Amazonas, como região, tem de diferencial, é a questão da biotecnologia. Nós criamos em torno de 5.885 novas vagas em uma nova universidade no Oeste do Pará, em Santarém e uma nova universidade em Tocantins, com sete novos campus. Criamos também dentro de universidades existentes vários campus, como em Cruzeiro do Sul, no Acre; Benjamim Constant, Coari, Itacoatiara e Parintins, no Amazonas. No Pará também criamos quatro novos campus em Tucuruí, Capitão Poço, Paragominas, Parapebas; em Rondônia no município de Ariquemes e em Boa Vista, no Estado de Roraima. Assim há um ataque frontal a questão da educação, porque nós a interiorizamos. No Amazonas, que tem distâncias tão grandes, se você não interiorizar as pessoas vão ter muita dificuldade em sair das suas regiões e estudar distante. Antes só havia, basicamente, nas capitais e em algumas cidades médias. O que nós estamos fazendo e que eu continuarei em grande escala é a ideia que, para o Brasil crescer, a questão mais importante é a educação de qualidade. Porque educação de qualidade significa que nós vamos ter oportunidade de fazer com que as pessoas tenham condições de ter um futuro melhor. E educação de qualidade é professor com formação universitária, o que vai beneficiar o aluno do ensino básico e do ensino fundamental e do ensino médio. E ganhando bem, porque ninguém valoriza ninguém se não pagar bem.
Amazon Sat – Que outras ações são propostas para modernizar a Amazônia sem perder de vista o cuidado com o Meio Ambiente? Como vai ser a sua relação com as ONGs?
Dilma Rousseff – Eu acho que as ONGs cumprem um papel, mas ONG é ONG, Governo é Governo. Eu não acredito que essas organizações substituem o Governo. Mas eu aposto sempre no diálogo. O grande método de aprofundamento da tecnologia é buscar primeiro o entendimento. Porém a posição da ONG é uma e a do Governo não é a mesma porque as óticas são diferenciadas. Eu respeito ONG e acho que tem que haver inclusive parcerias, que podem ser muito vantajosas e que vem sendo feitas com essas organizações. Mas repito, ONG e Governo são entidades distintas, assim como em qualquer outra área. Por exemplo, Sindicato é uma coisa e Governo é outra. Eu não posso supor que o Governo faça a política do Sindicato, nem que fará da ONG, porque a visão do Governo é sempre mais ampla que a de uma categoria, uma organização ou de um movimento.
Agradecimentos
Eu queria agradecer e dizer que a Amazônia tem uma grande característica: ela é um dos passaportes do Brasil para o futuro. Se quisermos de fato sermos uma nação desenvolvida, o que podemos ser, uma das questões centrais para isso é a demonstração de que somos capazes de, sem abandonar os 20 milhões de amazônidas, preservarmos a imensa riqueza e a maravilhosa diversidade que lá existe. Acho que a gente sabe o caminho, mas sempre em parcerias, porque não dá para fazer sozinho. (Amazonsat)




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