"Esse recorde estava engasgado", disse Cielo. "Eu estava batendo na trave toda hora. Queria o recorde dos 50 metros desde a Olimpíada de Pequim." O velocista contou que acordou às 3h30 e não conseguiu mais dormir. "Às 5 horas, ainda estava na frente do computador. Tomei um energético, estava com medo de ficar sonolento. É difícil controlar a ansiedade." Mesmo assim, o nadador diz que não se cobra em nenhum evento. "A pressão que me coloco é psicológica, em cima do meu objetivo. Aqui, o meu objetivo era o recorde. Quando consegui, foi um alívio. Comemoro como se fosse uma medalha olímpica."
Previsões
Alberto Silva, o Albertinho, técnico de Cesar Cielo no Brasil, assistiu da arquibancada à quebra do recorde e vibrou no meio do público com o feito histórico. Emocionado, com os olhos marejados, só então tirou do bolso o papelzinho em que Cielo havia escrito, na véspera, o tempo que pretendia fazer nos 50 m: 20s86. "Estou muito emocionado. Ver um recorde mundial ser quebrado aqui dentro... Nunca imaginei que a gente fosse ver isso na vida", disse o treinador. "Era para ter acontecido ontem, mas ele teve outra oportunidade."
Cielo chegou ao Pinheiros para treinar com Albertinho quando tinha apenas 15 anos. "O mais importante disso é que eu pude fazer parte do processo e a confiança que ele deposita no trabalho", disse o treinador. "Ele ficou uma pessoa mais madura, um atleta mais consciente e são detalhes muito pequenos que separam a vitória da derrota."
Também na arquibancada, Flávia Cielo, mãe do recordista, ficou emocionada, mas não tinha dúvida de que o filho sairia da piscina como recordista mundial. "Eu mentalizo. Quando estava em Pequim, o vi no pódio. Tinha o lugar dele lá", lembrou Flávia. "Hoje, eu vi 20s91 no placar. É a idade do meu sobrinho e o ano de nascimento da Fernanda, minha filha", prosseguiu. "Não tem diferença nenhuma o recorde ser aqui ou fora, cada conquista dele é muito importante para nós."
Flávia contou que o filho estava "chato" ontem, porque não fez o recorde. "Eu disse: ‘Ah, menino. Você tem 22 anos. Vai descansar, não fica com essa cara de quem comeu e não gostou.’ Ele acordou zerado, mas às 3h30. E queria que eu acordasse também", disse Flávia.
Sorry, Fred
Brett Hawke, o técnico australiano que orienta o treinamento do brasileiro na Universidade de Auburn, nos Estados Unidos, também estava na piscina do Pinheiros. Hawke, também treinador de Fred Bousquet, ex-recordista mundial dos 50 m, brincou: "Liguei para o Fred e disse: ‘Sinto muito (I´m sorry), você não é mais recordista mundial. Ele deve estar chorando agora’. Falando sério, os dois se respeitam muito."
Hawke contou que Cielo costuma nadar as provas de 50 m com maiô azul e as de 100 m com maiô cinza. "Hoje, ele quis trocar. Deu sorte." A diferença entre a marca de ontem e o recorde mundial de hoje? "Ele sabia que podia conseguir. Ele tem sorte de ter dois bons treinadores", finalizou Hawke.
Cielo recebeu a medalha das mãos do medalhista olímpico Gustavo Borges, com quem chegou a treinar no Pinheiros. "Ontem (quinta) foi uma mistura de frustração por não ter conseguido o recorde com um gostinho de quero mais", disse Gustavo. "A manhã não é o horário ideal para se buscar um recorde, garanto que ele nem dormiu. Mas o tempo mostra como será a sequência do ciclo olímpico, reafirma sua condição de melhor do mundo nos 50 e 100 m."
Patamar único
Para Cielo, bater recorde mundial não depende de estar no Brasil ou no exterior. "Mas inconscientemente o fato de estar em casa, de a galera me cumprimentar, desejar boa sorte, ajuda. Me preparei para isso. Fui para o Canadá para carregar a tocha olímpica, tive de fazer uma semana de treinamento sozinho, nem sempre em horários adequados, mas me dediquei", contou o recordista. "Ontem, já tinha cumprido o objetivo da temporada, que era nadar o meu melhor tempo nos 50 livre. Agora, com esse recorde, fecho uma temporada especial, a mais importante da minha vida. Uma temporada com a qual muitos velocistas sonham: campeão mundial dos 50 m e dos 100 m, recordista mundial dos 50 m e dos 100 m. Acho que cheguei a um patamar único", disse Cielo.
"Como não competi fora, só tinha os tempos dos treinos. Confiei muito no treinamento, na minha dedicação. Era a última chance de nadar com o maiô, ou eu ia ou ficava sem o recorde", lembrou Cielo. "Só começamos a sentir que dava agora no final. No começo, não estava muito bem. Competi pouco, saí da Copa do Mundo, nadei o Paulista, em Santos e uma competição no Pinheiros, mas não foi a temporada ideal em termos de treinos e competição."
Cesar Cielo é campeão olímpico e mundial dos 50 m livre (Pequim/2008 e Roma/2009), recordista mundial dos 50 m livre, medalhista de bronze olímpico nos 100 m livre (Pequim/2008), campeão e recordista mundial dos 100 m livre, com 46s91 (Roma/2009). Em 2010, ano sem Mundial, Pan-Americano ou Olimpíada, o objetivo principal do nadador é competir bem no Pan-Pacífico de Los Angeles, em agosto. Cielo segue para Auburn, no Alabama (EUA), em janeiro, para dar prosseguimento ao seu trabalho com Brett Hawke.(Noticianahora)
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