A chegada do gás natural aos canos metálicos que furam as avenidas de Manaus tem dois lados da moeda bem distintos. Enquanto o projeto - com custo de 4,5 milhões de reais - por um lado apresenta amplos ganhos socioambientais, por outro, de nada acrescenta de benefícios ao consumidor. Os ganhos no campo ambiental e social completa uma lista vasta. A primeira delas é a substituição da matriz energética, já que em vez de queimar óleo diesel e do óleo combustível – produtos de origem fossilizada e, portanto, mais poluente que o gás – passa-se a alimentar os motores dos geradores das termelétricas com o próprio gás. Tal mudança é significativa: reduz a quantidade de carbono emitido à atmosfera e, assim, contribui com o bom exemplo de apoiar redução do aquecimento global.
Segundo, a obra em si representa um marco no trato com os recursos ambientais e exemplos de como a engenharia pode se adaptar à realidade amazônica: os impactos foram os mínimos possíveis (baixo desmatamento, por exemplo); o maior número de comunidades locais foram beneficiadas – incluindo sete cidades ao longo de seu trajeto, o que demonstra um cuidado com a questão social (Coari, Codajás, Anori, Anamã, Caapiranga, Manacapuru e Iranduba, além de Manaus, foram beneficiados com a chegada do gás).
Tais benefícios são frutos do amadurecimento do terceiro setor, especialmente (ONGs, associações comunitárias), que passou a colaborar nas cobranças e monitoramento do cumprimento das leis. Além disso, há o avanço das mesmas leis, melhorias das tecnologias e a preocupação das empresas que, cada vez mais, vêm que não dá para empreender sem considerar os impactos, ou as exeternalidades negativas – como se fala no jargão técnico: são exigências contratuais e necessidades exigidas pela população.
E onde entra a demanda da energia em Manaus em tudo isso?
A hidrelétrica de Balbina – construída à época para suprir a energia para o Pólo Industrial de Manaus (PIM) – hoje está longe desta meta. Na verdade, a energia que abastece a maior parte da capital Amazonense tem origem em fontes não necessariamente hídricas e, até agora mais poluentes: a energia é comprada pela Amazonas Energia diretamente nas cinco termelétricas. Atualmente, a boca mais faminta por energia em Manaus é o setor do PIM (Relatório Administrativo da Amazonas Energia (2008, pg 12) indica que o consumo da indústria é de 43% e residencial 23% e o comercial 19%). Tais números mostram pra onde vai a energia inicialmente gerada no gasoduto.
O natural seria esperar que se a energia está sendo gerada a partir de uma fonte, digamos, mais limpa e em tese mais barata, haveria uma redução natural na conta mensal. Correto? Não necessariamente.
Dados da Agencia Nacional de Energia (ANEEL) mostram que a energia mais cara do Brasil é exatamente a de Manaus. Segundo os técnicos, poderá ocorrer uma queda na tarifa nos próximos anos, mas a chegada do gás nada muda neste quesito e os valores permaneceram nos patamares mais altos.
Ainda que os avanços sejam óbvios, há necessidade de se transformar os ganhos de uma obra grandiosa, como esta, em benefícios palpáveis à população e não somente ao setor industrial. Se não, difícil pedir apoio da comunidade naquilo que não se vê vantagem. Como disse o lendário Primeiro Ministro Inglês Wilson Churchill: “não existe almoço grátis”.
Cá como lá, também não haverá compreensão nem apoio também grátis.
*Esse artigo é de responsabilidade do autor Ronaldo Pereira dos Santos e não reflete a opinião do Blog. e-mail: ronaldo.santos@mns.incra.gov.br
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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
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