A CONQUISTA DOS INDECISOS FOI O
FOCO DO ÚLTIMO DEBATE NA TV
Rio - Até em função do formato do encontro de ontem à noite, na TV Globo, que não permitiu a Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) dispararem perguntas entre si, os dois candidatos fizeram do último debate o mais propositivo de toda a campanha. Pautados por questionamentos de um grupo de indecisos selecionados em todo o país, os pretendentes ao Planalto se viram forçados a se debruçar sobre temas cotidianos. Deixaram de lado o corolário de denúncias que entupiram a campanha no segundo turno, para, frente a frente com eleitores do estúdio e sob o olhar do Brasil inteiro, convencerem os indecisos de suas propostas em áreas como segurança e saúde.
Nada de farsa, corrupção, entreguismo, quadrilha e outras expressões fortes que marcaram a reta final da campanha presidencial deste ano. No último e decisivo debate antes das eleições, promovido pela TV Globo na noite de ontem, os presidenciáveis José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) esbanjaram cautela. Até porque a fórmula do programa impediu a troca direta de farpas – tão comuns em confrontos anteriores e tão do agrado de muitos telespectadores. Não, o tom foi ameno.
Na tentativa de priorizar as metas e não os pecados dos debatedores, a direção da TV determinou que os presidenciáveis não fizessem perguntas um ao outro. Além disso, tampouco jornalistas puderam fazer questionamentos. Os únicos com direito a inquirir os presidenciáveis foram 80 eleitores indecisos, que compareceram pessoalmente nos estúdios da TV Globo. Conscientes de seu poder nesse momento decisivo do pleito, estavam todos sentados nas poltronas do Projeto Jacarepaguá (Projac), a Hollywood construída pela Globo na Zona Oeste carioca, quando os candidatos chegaram aos estúdios, às 21h45min.
O primeiro a desembarcar, vindo de helicóptero para driblar um gigantesco congestionamento, foi Serra, disposto a jogar tudo numa última cartada e assessorado fielmente pela esposa e guru, a chilena Monica. Dilma veio depois, escoltada pelo popularíssimo governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB) e seu séquito de colaboradores. Os 80 eleitores indecisos, pinçados entre todas as classes sociais, elaboraram cinco questões, de temas que iam da saúde à educação, passando por segurança pública e ambiente. Destas 400 perguntas, a produção da Globo selecionou apenas 12, consideradas as mais perspicazes.
Convictos de que indecisos, via de regra, não gostam de posturas bruscas, os presidenciáveis trataram de fazer um discurso de agrado ao público que os inquiria. Questionada por um servidor público (ex-agricultor) gaúcho sobre projetos para agricultura, Dilma aproveitou para dar um afago ao Estado que a projetou. Afiançou que, durante o governo Lula, de cada 10 tratores vendidos no Rio Grande do Sul, oito se destinam à agricultura familiar. Serra, encostado nas cordas pelas pesquisas que o mostram 10 pontos atrás da adversária, aproveitou a deixa para dar sua primeira alfinetada: criticou a falta de infraestrutura nas estradas rurais, que causa grande estrago à produção agrícola. E prometeu melhorar essa rede capilar que leva o alimento do campo à cidade.
Assessores de peso para Dilma e Serra
Em resposta a uma eleitora que narrou como ficou refém num assalto, Dilma jurou melhorar as polícias Civil e Militar de todos os Estados – expandindo a bolsa-formação, hoje já concedida a cerca de 360 mil policiais. Ela também disse que vai reforçar o policiamento comunitário nos bairros mais pobres. Serra, no contraponto, concordou que o governo federal deve ampliar sua participação na segurança pública, mas preferiu dizer que vai fortalecer a luta contra o contrabando de armas e drogas nas fronteiras. Ele também defendeu a criação de um Ministério da Segurança. A estratégia de amornar as discussões agradou aos militantes governistas.
“Zero a zero. Bom para quem está jogando pelo empate”, tuitou Marcelo Déda, governador reeleito de Sergipe pelo PT.
Já Jutahy Magalhães, baiano e serrista, elogiou seu candidato. “Serra foi muito objetivo. Falou o que pode fazer, com dados reais”.
E foi assim, com Dilma na defensiva e Serra ligeiramente no ataque (mas sem exaltação), que prosseguiu o debate. É que existia apenas uma brecha para alvejar o oponente: os presidenciáveis podiam comentar a resposta um do outro. E não perderam a oportunidade. O candidato do PSDB era municiado com bilhetinhos, olhares e sinais por pesos pesados do staff tucano, como o paulista Alberto Goldman e o Jutahy. Dilma, nos intervalos, se aconselhava com o petista gaúcho Marco Aurélio Garcia (assessor especial do presidente Lula), cochichava com a petista Marta Suplicy, recolhia dicas com o candidato a vice-presidente, Michel Temer (PMDB), e o anfitrião fluminense, Sérgio Cabral.
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