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quarta-feira, 12 de maio de 2010

A COERÊNCIA DE DUNGA E OS POLÍTICOS

                                                       *Osny Araújo

Nunca fui fã de Dunga, como técnico, mas como jogador mas sempre admirei a sua raça e determinação nos jogos pelos clubes que passou e em especial pela Seleção, mas tenho que reconhecer que o gaúcho tem uma coisa que falta em muita gente, principalmente no mundo político. Coerência.
Ontem, durante a convocação dos jogadores para a Copa da África, manteve todo o discurso desde o início do seu trabalho no comando da nossa Seleção, quando afirmava que quem conquistava o espaço era o jogador, a sua vontade de vencer e o orgulho de vestir a amarelinha e não o técnico ou os cartolas da CBF e muito menos a mídia. Na convocação provou isso.
Resistiu às críticas e aos lobs da grande imprensa nacional, especialmente a paulista que tentou impor as convocações dos “meninos da Vila” Ganso e Neymar e ainda de quebra, deixou de fora o polêmico Adriano que teve inúmeras chances na Seleção e por falta de cabeça, jogou todas fora, por isso, cedeu lugar a Grafite, a única surpresa da lista, uma vez que, ninguém contava a esta altura do campeonato com a convocação de Ronaldinho Gaúcho, que parecia ultimamente jogar, por favor na Seleção, sem entusiasmo e patriotismo e por isso, dançou, como sempre faz em campo quando marca um gol.
O certo, é que contra tudo e contra todas, agradando ou não, Dunga, manteve o que sempre falou desde o início e quem se ajudou, produziu e teve o orgulho de servir a Seleção, estará
Na Copa com ele – ou seja, manteve o discurso e foi sim, um sujeito coerente e isso é digno de respeito e aplausos.
Criticado por muitos e pressionado pela mídia, Dunga ao anunciar os convocados, manteve a coerência e não se deixou influenciar em momento algum pelo oba-oba ou pressões e repito, em momento algum deixou de ser coerente, fazendo com que os jogadores acreditem na seriedade do seu trabalho como treinador.
Não estou querendo dizer, até porque não sou nenhum especialista em esporte, especialmente em futebol, que a Seleção convocada é boa ou ruim. Se este ou aquele jogador deveria sair para que outros entrassem. O que ressalto aqui, é a sua coerência, qualidade que deve ser admirada.
Toda esta introdução foi para falar de que tudo seria diferente em nosso País, se, por exemplo, os nossos políticos, com cargos outorgados pelo povo, tivessem pelo menos um pouco da coerência que tem o técnico da nossa Seleção, mas infelizmente, isso não ocorre.
Quando postulantes aos cargos eletivos, os nossos políticos utilizam um discurso, às vezes com bons propósitos, mas quando passam as eleições e são empossados, coerência é vocábulo desconhecido por todos e terminam esquecendo tudo o que pregaram e fazem exatamente o contrário daquilo que foi prometido ao povo. É muita falta de coerência e de comprometimento, o que vejo de sobra no carrancudo Dunga.
Que a corajosa posição assumida por esse gaúcho no importante e cobiçado canarinho, cargo de técnico da Seleção brasileira, sempre de acordo com o seu pensamento exposto ao público e aos jogadores, sirva de exemplo para os nossos políticos, a final, um pouco de coerência num político, não deve fazer mal nenhum, mas devo admitir, que isso é coisa muito difícil de acontecer.
Outro dia, por exemplo, numa entrevista pelo Amazon Sat, o presidenciável José Serra, do PSDB, deu um show de incoerência. Todos sabem que ele nunca viu com bons olhos a Zona Franca de Manaus e de um momento para outro, esse modelo de desenvolvimento regional, passou a ser maravilhoso e importante para o Amazônia e para o Brasil. Que essa importância existe, também sabemos, mas que o Senhor Serra, esta sendo incoerente, ninguém pode duvidar.
Alguém se lembra da postura do Partido dos Trabalhadores antes de ser Poder. Será que o comportamento petista continua o mesmo que antes. Isto é coerência?
Num passado um tanto distante, Amazonino Mendes, disse o diabo do ex-prefeito Manoel Ribeiro, chamando-o inclusive de desonesto e agora, é um dos seus principais assessores na administração municipal. Isso também é coerência?
Recordo que quando ainda jovem, o prefeito Amazonino Mendes, que já passou por uma série de partidos políticos, era comunista, integrava o PCdoB e em determinado momento foi um dos fundadores no Amazonas do Partido Democrático Cristão. Isso também é coerente?
Por exemplo, eu estaria sendo incoerente se dissesse agora que o Dunga é um grande técnico para a nossa Seleção. A minha opinião sobre ele continua a mesma, agora, na qualidade de brasileiro, amante do futebol e torcedor, tenho que abraçar a amarelinha e torcer para que tenhamos sucesso na Copa do Mundo da África do Sul, simplesmente por coerência.
Sobre atos praticados por políticos incoerentes, se tivesse que listá-los, teria centenas de casos, mas vou ficar por aqui, torcendo para que o exemplo de Dunga contagie os nossos políticos. Que assim seja.

*Osny Araújo é jornalista e analista político.

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