Descobriram a pólvora
Brasil ainda conhece pouco sobre a Amazônia
Brasilia - Apesar de um plenário esvaziado, o IV Simpósio Amazônia - realizado recentemente em Brasília – reuniu lideranças políticas e gestores públicos para debater a carência de infraestrutura e a busca pelo desenvolvimento sustentável na Amazônia. Ao abrir o evento o presidente da Comissão da Amazônia Integração Nacional e Desenvolvimento Regional (CAINDR), Marcelo Serafim, destacou que a região amazônica precisa ser olhada com o carinho e a atenção que ela merece. “A riqueza que a Amazônia tem não pode ser desprezada pelo Brasil porque ela é, a todo momento, reconhecida por todos os países do mundo”.
Para o deputado, não se pode falar em desenvolvimento sustentável sem discutir a tecnologia da informação na Amazônia. “Há uma carência muito grande de internet, telefonia celular e até mesmo de transporte de qualidade. Nós vemos o resto do Brasil dizendo que na Amazônia não pode se construir estrada, não se pode fazer usina hidrelétrica, por que não pode? Nós temos que desenvolver a região de forma sustentável e com inteligência”, afirmou o parlamentar.
Conhecer para planejar
O ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, destacou a necessidade de conhecimento do subsolo e solo da Amazônia para o planejamento de ações de desenvolvimento sustentável. Samuel foi expositor durante o primeiro painel do Simpósio, que discutiu a infraestrutura e as estratégias de desenvolvimento sustentável do Plano Amazônia Sustentável.
Segundo ele, o conhecimento das características da região ainda é muito insuficiente. Guimarães mostrou exemplos de grandes projetos que estão sendo realizados com sustentabilidade e tecnologia de ponta. Um deles é o tipo de turbinas da Usina de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia: o projeto inicial previa um alagamento de 1500 km² e, depois da decisão do uso das novas turbinas, houve a redução para 500 km². Isso significa, segundo o secretário, uma significativa redução do impacto ambiental da obra.
O ministro citou ainda o macrozoneamento realizado pelo governo federal e por um zoneamento econômico e ecológico feito pelos estados da região. “O conhecimento ainda é insuficiente, e essas iniciativas, que já estão praticamente finalizadas em Rondônia e no Acre, são importantes para definir as características de cada localidade”.
A constatação do ministro teve apoio do líder do PSB, deputado Rodrigo Rollemberg (DF), que defendeu a pesquisa como meio de promoção da sustentabilidade e do desenvolvimento. “Toda a logística de desenvolvimento ligada ao transporte, à energia e à comunicação depende de conhecimento científico sobre essas áreas”, disse Rollemberg.
Visão romântica
Apesar das diferenças partidárias, parlamentares concordaram em criticar a “visão romântica” com a qual é vista a Amazônia. Os debatedores a definiram como obstáculo ao desenvolvimento da região. O deputado Marcio Junqueira (DEM-RR) disse que a Amazônia tem sido negligenciada e, segundo ele, a região não pode ser tratada com utopia ou romantismo. “Temos que preservar sim, mas precisamos garantir qualidade de vida para os brasileiros”, completou.
Já o deputado Neudo Campos (PP-RR) disse que “falta força política” para garantir o desenvolvimento da região. Campos pediu a participação de representantes locais na definição de metas de desenvolvimento para a Amazônia. “Temos percebido que muitas causas importantes são decididas em Brasília, na maioria das vezes por pessoas sem conhecimento da realidade local”.
O Simpósio teve a participação de quem acompanhou o evento pela internet, como na Assembléia Legislativa do Amazonas.
Amazônia engessada
Respondendo ao deputado Átila Lins (PMDB-AM) que criticou o “engessamento” da Amazônia com a criação de parques extrativistas e reservas nacionais, o diretor do Departamento de Zoneamento Territorial do Ministério do Meio Ambiente, Roberto Vizentin, disse que o desenvolvimento econômico da região amazônica não está engessado pelas regras ambientais. “Essa concepção de que a proteção ambiental trava o desenvolvimento da região é um discurso genérico que não tem sustentação na realidade, já que os dados apontam um crescimento econômico até maior do que a média do País em determinadas partes da Amazônia”, disse Vizentin (foto).
Segundo o diretor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve assinar até o início do mês de junho o decreto que aprova o Macrozoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal (MacroZEE), um documento que divide a região em dez áreas - de acordo com as particularidades socioambientais - e define estratégias de desenvolvimento para cada região. “O Brasil pode reinventar o seu próprio modelo de desenvolvimento na Amazônia”, disse Vizentin.
Amazônia interligada
Até 2014 a região amazônica estará completamente ligada ao sistema interligado nacional de distribuição de energia. A previsão é do diretor do Departamento de Planejamento Energético da Secretaria de Planejamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Gilberto Hollauer. Segundo ele, integrar o sistema garante uma energia firme e segura.
A distribuição de energia na região foi criticada pela deputada Janete Capiberibe (PSB-AP) e pelo deputado Lupércio Ramos (PMDB-AM). Segundo eles, a Amazônia ainda não tem energia segura e esse é um dos entraves ao desenvolvimento.
Hollauer defendeu a exploração do potencial hidrelétrico do Complexo dos Tapajós, que teve estudos desenvolvidos pela Eletrobras Eletronorte e já está na lista dos empreendimento hidrelétricos da Amazônia. “As usinas-plataforma são construídas sem reservatório, os canteiros de obras são reduzidos e os empregados trabalharão em longos períodos, como ocorre numa plataforma de petróleo”, explicou. Segundo Hollauer, o modelo plataforma evita a aglomeração em torno da obra, evitando desmatamento e garantindo a preservação ambiental.
O Simpósio pôde ser acompanhado pela internet com a interatividade de participantes da Assembléia Estadual do Amazonas.Notícias da Amazônia (Por Camila Fiorese)
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