SISTEMA BINÁRIO NO
TRÂNSITO É QUESTIONADO
TRÂNSITO É QUESTIONADO
Manaus - Apresentado nesta semana como principal solução para o problema do trânsito de Manaus, o sistema binário, que vai mudar para sentido único o fluxo de veículos das avenidas Djalma Batista e Constantino Nery, pode não ser tão eficaz como anunciado pela Prefeitura de Manaus. Especialistas consultados pelo Blog garantem que algumas intervenções viárias são questionáveis.
E o mais grave: até os criadores do projeto ligados a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf) admitem que certas intervenções propostas podem não surtir o efeito planejado. “A prefeitura vai tentar e, caso não dê certo como o idealizado, voltaremos a operar como era antes”, justifica o urbanista da Seminf, Haroldo Bandeira sem parecer se importar com os R$ 20 milhões que a obra já terá consumido caso o município volte atrás da decisão.
O engenheiro de estradas e transporte da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Rubelmar de Azevedo Filho observa pontos divergentes na execução do sistema binário. O especialista questiona, por exemplo, os transtornos de interligação para os motoristas que necessitarem se deslocar para a avenida Djalma Batista, apontada pelo professor, como o principal centro de negócios da capital. “Uma via em sentido único dificulta o acesso dos trabalhadores que precisarão caminhar cerca de 400 metros da Constantino Nery para a Djalma”, calcula.
Na opinião do professor, a construção de calçadas amplas e passarelas de acesso às duas avenidas podem garantir a segurança dos pedestres que necessitem fazer a interseção entre as vias expressas. “Esse calçamento deve ter no mínimo três metros de largura e não os atuais 1,5 metros”, insiste Rubelmar Filho. Ele acrescenta que a instalação desses passeios públicos, observadas as barreiras de contenção, pode evitar os estacionamentos irregulares. “Algumas atitudes não demandam de dinheiro e, sim de vontade política”, pondera.
E vontade pode não faltar, adianta o urbanista Haroldo Bandeira. O assessor da Seminf garante que os estudos para a criação de passarelas e calçadas para pedestres estão em fase conclusiva. “Estamos planejando criteriosamente todos os passos a serem adotados quanto a segurança das pessoas. Tudo será padronizado!”, especifica Bandeira.
‘Peixe velho vendido como novo’
Na administração do ex-prefeito Serafim Correa (PSB), o professor Rubelmar Filho participou dos primeiros estudos de viabilidade do sistema binário. “Estão vendendo como peixe novo uma ideia concebida na gestão passada. Se os estudos atuais se aproximarem das avaliações passadas vai ser algo bom. Uma obra dessas não pode ser quebrada por erro na elaboração”, detalha o engenheiro civil.
Outro motivo de preocupação de Rubelmar Filho é quanto aos gargalos provocados pelo escoamento de veículos nos dois sentidos do binário. Para o professor, é difícil calcular a dimensão dos transtornos provocados, por exemplo, na interligação entre Constantino Nery e rua Epaminondas, no Centro. “Será que ao afunilar o trânsito naquela região as ruas vão suportar tanto veículos juntos?”, indaga.
Em outras perspectiva, o mesmo traçado entre Epaminondas e Constantino Nery até seu prolongamento à Djalma Batista deveria ter um novo desenho na opinião do professor Rubelmar Filho. Ele avalia que ao chegar ao Centro, os veículos teriam que contornar a estação da Matriz e dobrar à esquerda em frente a Alfândega seguindo pela Eduardo Ribeiro em sentido único. “No final dessa via, uma passagem de nível passaria por baixo do Instituto de Educação do Amazonas (IEA) e alcançaria a Djalma por meio da Silva Ramos e Japurá”, projeta Rubelmar.
Descentralizar é a solução
A Seminf admite o problema, mas garante que, com o advento de construção do sistema viário do monotrilho, a atual estação dos ônibus, na Praça da Matriz, vai ceder lugar a mais pistas de rolamento. O urbanista Heraldo Bandeira acredita que a solução ‘definitiva’ para equacionar as dificuldades de escoamento de frota é mudar a mentalidade da população que utiliza os serviços da área central da cidade. A proposta é que as pessoas transfiram suas atividades comerciais para outras regiões da cidade. “Muitos bairros são autossuficientes com disposição de todas as atividades praticadas no Centro”, exemplifica Bandeira, ao citar os comércios da Alvorada, Cidade Nova, São José e Parque 10 como exemplos de vetores que agregam grandes redes de negócios e serviços.
Outro gargalo
O engenheiro civil Hallyton Geber trabalhou durante três anos no extinto Instituto Municipal de Trânsito (Imtrans) e alerta para outros problemas advindos da redistribuição dos fluxos de veículos no sistema binário. “Tem que se observar o tráfego nos cruzamentos entre a avenida Djalma Batista e Mário Ypiranga (antiga Recife). Naquele trecho existe um afunilamento que somente a construção de mais uma pista resolveria o emparelhamento dos carros”, analisa Geber.
Nenhum comentário:
Postar um comentário