Projeto apoiado pela Fapeam estuda
impactos do desmatamento nos igarapés
Manaus - O Projeto "Igarapés", desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), tem realizado pesquisas em duas linhas de ação: estudar a biologia e ecologia dos organismos aquáticos que vivem em igarapés, e entender os efeitos de alterações ambientais produzidas pelo homem nesse tipo de ambiente. O projeto já é desenvolvido no Amazonas há dez anos.
A ação teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) nos últimos quatro anos, por meio do Programa Integrado de Pesquisa Científica e Tecnológica (PIPT). O projeto constatou que o desmatamento, com fins para agricultura pecuária, tem impactos sobre a fauna aquática e os igarapés.
De acordo com o coordenador da pesquisa, Jansen Zuanon, os estudos foram realizados com base na análise de insetos aquáticos e peixes que demonstraram as alterações ambientais produzidas pelo homem.
Doutor em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Zuanon explicou que o estudo com os peixes constatou a ocorrência de variações previsíveis a cada estação do ano na composição de espécies que vivem nos igarapés. Ele disse que antes, essas alterações eram descartadas.
"Como os rios de grande porte ultrapassam as margens na época da cheia, o que causa mudanças na composição da água, pensava-se que nos igarapés as alterações não aconteciam, apesar da água também subir e descer, mas não atingir o limite da margem dos igarapés", informou.
Segundo ele, as pesquisas desenvolvidas pelo projeto Igarapés revelaram comportamentos até então desconhecidos em peixes de água doce. É o caso do peixe mandi, mais conhecido como peixe-bigode. O animal arma uma espécie de rede com seu bigode para detectar alimentos trazidos pela corrente de água. Após saborear a refeição, o bicho retorna ao mesmo lugar que estava.
"Outro exemplo é um tipo de piaba (peixe pequeno) que muda de cor conforme a época do ano", destacou.
Além do Inpa, participam do projeto cientistas das universidades Federal do Amazonas (Ufam), Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Federal de Goiás (UFG), Federal de Viçosa (UFV), Federal do Espírito Santo (UFES) e Estadual do Mato Grosso (UNEMAT).
Importância
Dos ambientes aquáticos, o igarapé é o mais numeroso e mais próximo da comunidade. No entanto, é o primeiro atingido por perturbações ambientais, como desmatamento, poluição urbana, assoreamento e construção de estradas.
“Igarapés íntegros são fontes de água, saúde e lazer, mas quando poluídos e com o canal alterado são fontes potenciais de doenças veiculadas pela água ou por insetos, e podem causar inundações e outros problemas às comunidades ribeirinhas”, explicou o doutor.
Segundo o pesquisador, os igarapés e a floresta são importantes reguladores do microclima local e necessários para a conservação da biodiversidade, pois centenas de espécies de peixes e outros organismos aquáticos dependem desse tipo de ambiente para sobreviver.
Atuação
Os estudos foram iniciados na área do Distrito Agropecuário de Manaus e se estenderam aos igarapés das Unidades de Conservação (parques nacionais do Jaú e do Viruá, estações ecológicas da Ilha de Maracá e de Juami-Japurá, Parque Estadual do Rio Negro e Floresta Nacional de Altamira, dentre outras), e nos municípios de Rio Preto da Eva e Presidente Figueiredo. Foram realizados estudos no interflúvio Madeira-Purus, às margens da BR-319, e nas bacias dos rios Trombetas e Tapajós (PA).
Metodologia
Os pesquisadores participantes do projeto desenvolveram uma metodologia padronizada para os estudos (um protocolo de amostragem) que permite a comparação dos resultados obtidos em igarapés de diferentes tamanhos e características.
Em cada igarapé, somente um trecho é coletado. A partir da escolha ao acaso do ponto de amostragem, são conhecidos os parâmetros ambientais, como abertura média do dossel (sobreposição dos galhos e folhas das árvores), largura do canal, profundidade, velocidade da corrente, vazão, tipos de substratos, temperatura, oxigênio dissolvido, condutividade, pH, partículas em suspensão e concentração de ácidos húmicos.
Os peixes e insetos aquáticos também são recolhidos. Como as coletas são realizadas em trechos relativamente pequenos e durante um curto período de amostragem, não há grande impacto sobre as populações.
“Este protocolo tem sido utilizado para avaliar os efeitos do corte seletivo de madeira sobre a estrutura, dinâmica e a fauna de igarapés em áreas de manejo florestal de baixo impacto, o que demonstra a versatilidade e utilidade do método para avaliação de impactos ambientais nesse tipo de ambiente”, ressaltou Zuanon.(P.Amazonia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário