Amazonas desmatador: a culpa, o erro e o que fazer
“Quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra”. Eis uma expressão popular que serve para qualquer situação. Nas duas últimas semanas o ditado caiu bem e desceu como espinha de peixe na garganta dos defensores da floresta. Deve-se esta incômoda comparação à noticia que o estado do Amazonas entrava, no ano de 2010, no grupo dos “não – mocinhos” quando o assunto é desmatamento.
Os dados apresentados murchou a bandeira hasteada pelo Amazonas – de estado mais ambientalmente correto: segundo as análises, foi o único estado a ter aumentos de árvores derrubadas em toda a região amazônica. Enquanto em todos os outros estados houve reduções significativas o Amazonas teve aumento de 6%.
Parece pouco ou insignificante para quem talvez não esteja “por dentro” dos assuntos ambientais. Contudo, esta notícia contrasta com todo o esforço feito pelos entes públicos, ao longo dos últimos oito anos, na gestão ambiental. Por um lado, não faz sentido dentro da lógica das políticas púbicas vistas até então. Por outro, mostra uma realidade que incomoda e evidencia o problema de se administrar regiões tão vastas.
Numa análise mais detida e crítica, deve-se admitir que há problemas sérios com a região que praticamente é a única a contribuir para estes dados: o sul do Amazonas. Não se espera que conheçamos o estado de cabo a rabo, mas a população de Manaus (a locomotiva do estado) não tem a menor idéia do que acontece naquelas bandas.
A região é resultado de pelo menos 40 anos de políticas voltadas à ocupação. Antes despovoada, agora aparece com números de alta produtividade agropecuária, crescimento agroindustrial, aumento de renda e desmatamento e, em certa medida, alguma violência.
Quem é o culpado pelo desmatamento?
Há muitos. Desde culpados conscientes até aqueles que não tinham idéia das conseqüências de planos de programas governamentais descolados com a realidade local. Entretanto, não é o momento de caça às bruxas, como alguns tentaram fazer logo após a divulgação do infortúnio.
E o que é pior: análises feitas sem uma avaliação do que realmente é real e coerente. Como sempre, citar este ou aquele órgão, setor do governo ou mesmo os agente ativos no processo (os moradores da região) é cômodo e – em tese – desfoca sua participação no processo.
Logo, governos federal e estadual não precisam apontar o dedo para a trava no olho do outro. Não resolve (para não falar que atrapalha as boas relações).
Claro que parcela importante da culpa também está nos agentes que fazem o ato: os fazendeiros e pequenos agricultores. Eles são partes da engrenagem geral que, muitas fezes deslubrificada de ações efetivas e exeqüíveis, acabam enferrujando e prejudicando todas as demais peças. Todavia, são em boa, também parte vitimas.
Culpa do código florestal? Tão pouco é verdade. A reformulação da lei florestal trará alguma inteligência e coerência em alguns pontos, mas não será o remédio final (até porque a nova proposta no Congresso tem imperfeições).
Os caminhos
O governo federal tem investido maciçamente na prevenção e combate. Tem sido pouco. O estado também tem contribuído. Porém, igualmente insuficiente. Mas não se trata apenas de investimentos. Trata-se de dotar de políticas de longo prazo, que não terminem com o fim do mandato nem cheguem somente nas palavras de palanque e de planos de campanha.
Trata-se, sim, de efetivar a presença do governo na região. Mostrar que o erro pode levar a conseqüências pouco palatáveis, mas também que seguir a legislação e colaborar pode trazer ganhos, inclusive e especialmente financeiros.
Trata-se de reconhecer e atuar para que partes da região possa comportar a produção agropecuária (há áreas com boa aptidão de solo e clima – aliado à tecnologia já disponível). Ao mesmo tempo, deve-se criar também as áreas protegidas (como já há boas porções de parques na região).
Parece fácil, novidade ou coisa que ninguém jamais falou? Longe disso. Na verdade as bases científicas para a solução deste problema já estão postas há pelo menos duas décadas. Os especialistas (mesmo os poucos que tem coragem de escrever o que pensam) nem agüentam mais comentar. E como tudo isso pode ser feito?
Eis onde mora o problema. O que fazer já se sabe. A questão é como fazê-lo. Independente de quantas e quais medidas tomadas, se não forem de longo prazo e mostrando a presença física, pouco se avançará. Manaus está bem longe do problema e, dele não quer nem saber.
*Ronaldo Pereira Santos é engenheiro-agronômo, servidor público federal e escreve regularmente neste endereço.
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