Em 1988, ou seja, 22 anos atrás, em trabalho intitulado “A crise do setor primário amazonense: 25 anos de decadência econômica, desemprego na agricultura e redistribuição da população”, o professor da UFAM, Rosalvo Machado Bentes, já diagnosticava os problemas e apresentava os caminhos visando à superação. Contudo, quem vive no setor sabe perfeitamente que as recomendações do nobre professor, especialista em economia, e uma das reservas morais deste estado, infelizmente não foram atendidas, em sua plenitude, pelos diversos governos. Naquela altura, em 1988, Rosalvo, que é apaixonado pela vida interiorana, apresentava contribuições para uma política de interiorização da população e crescimento econômico do interior do Amazonas, mas, infelizmente, somente o Pólo Industrial de Manaus recebeu atenção privilegiada das nossas autoridades. Penso, inclusive, que a culpa é do próprio setor, pois continua, em sua expressiva maioria, desorganizado e ainda não aprendeu a reivindicar. Naquela altura, Rosalvo concluía seu trabalho afirmando que a “geração de empregos e de renda depende de uma política econômica orientada para a produção de alimentos e o aproveitamento industrial das matérias-primas regionais nas próprias regiões de produção”. Hoje, passados décadas, continuamos importando alimentos básicos e a industrialização no interior é praticamente inexistente. Temos bons exemplos proporcionados pelo programa Zona Franca Verde, mas incapazes de substituir a total dependência do modelo econômico implantado no Pólo Industrial de Manaus, como era o desejo do governador Eduardo Braga. As estruturas de governo (federal, estadual e municipais) do setor primário ainda não são compatíveis com nossa dimensão geográfica e, dessa forma, não foi possível viabilizar ao produtor rural dois dos principais instrumentos produtivos: crédito e assistência técnica.
Rosalvo e o movimento populacional no AM
Em 1988, ao analisar a redistribuição espacial da população do Amazonas no período de 1960/1985 (25 anos), o professor Rosalvo Machado Bentes concluía que: “...a migração interior-capital é uma conseqüência do excedente de mão-de-obra liberado pelo setor primário e não absorvido pelas atividades não-agrícolas do interior. A liberação da mão-de-obra pelo setor agrícola é uma decorrência da crise setorial, que desencadeada a partir do ano de 1962, persistiu durante as décadas de sessenta e setenta e teve seu ponto mais crítico no período 1967-1970. Embora não tenha revertido essa tendência até o ano de 1984, durante esse período, apresentou alguns momentos cíclicos de curto prazo, que não foram suficientes para modificar a situação caótica vigente e soerguer a economia rural aos patamares de 1960 e 1961...”.
IBGE confirma Rosalvo
Na última semana de dezembro, o IBGE divulgou estudo fazendo algumas considerações a respeito do PIB (Produto Interno Bruto) do Amazonas, ou seja, confirmou o que já tinha anunciado o Professor Rosalvo, em 1988 (22 anos atrás). Hoje, a cidade de Manaus responde por 82% do PIB do estado, concentrando a riqueza na capital e o empobrecimento do interior. Itacoatiara, Parintins e Manacapuru que, no passado, já foram potências na produção de fibras, atualmente tem sua principal atividade econômica focada no item “serviços”. Em sua grande maioria, os municípios do Amazonas são sustentados pelas prefeituras, por meio de repasses federais e estaduais, afirmou o IBGE. Precisamente 23 municípios têm na atividade pública mais da metade do PIB. Um enorme absurdo, se considerarmos as nossas potencialidades de crescimento sustentável. Segundo o IBGE, o setor agropecuário é incipiente em quase todos os municípios.
Sugestões do Profº Rosalvo
Em 1988, ele já dizia que: “... A expansão da produção de alimentos deve ser orientada, em primeiro lugar, para o abastecimento do mercado consumidor do Estado, e, em segundo lugar, com vistas à exportação. A expansão da agricultura, da pecuária e da avicultura poderia dar outro impulso à industrialização das cidades do interior do Amazonas, dando condições para que, em médio prazo, fosse viável implantar usinas, abatedouros de aves, e matadouros-frigoríficos com vistas ao processamento da produção nas várias micro-regiões do Estado. Deveriam ser selecionadas de oito a doze cidades, de modo que em cada micro-região pelo menos uma cidade fosse contemplada. Usando esses critérios, deveriam ser implantadas tecelagens de juta no Médio Amazonas, usinas de beneficiamento de borracha no Madeira, Purus, no Juruá e no Solimões. Usinas de beneficiamento de castanha em todas as micro-regiões produtoras, matadouros-frigoríficos no Médio Amazonas e em outras regiões onde a pecuária viesse se desenvolver, e abatedouros de aves e fábricas de ração e de óleos vegetais onde o desenvolvimento da avicultura e da agricultura mostrassem ser necessárias...”. Bem, finalizo, agradecendo ao professor Rosalvo por ter me presenteado com seus trabalhos universitários, ricos em dados e informações sobre o setor rural. Eis um desses dados: Em 1973, o Amazonas produziu 48.600 toneladas de juta, hoje, no entanto, não passamos de 10 mil toneladas. Não podemos continuar “deitado eternamente em berço esplêndido”, precisamos fixar o homem ao campo, mas com dignidade. Como sempre tem dito o Dr. Eurípedes Lins, “é por aí o caminho”.
*Thomaz A P Silva Meirelles – administrador, funcionário público federal, especialista na gestão da informação do agronegócio. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
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