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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

RETROCESSO APAGA CHAMAS, MAS DEIXA FUMAÇA -*Osny Araújo


Toda a popularidade e o carisma ostentados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, talvez não o livrem de arranhões neste ano eleitoral, quando ele tudo fará para eleger a sua sucessora , a ministra-chefa da Casa Civil Dilma Roussef, que não tem essas qualidades com as quais iniciamos este artigo. Só a providência divina poderá livrar o presidente Lula desses arranhões, tudo em função do desgaste em vários setores da sociedade, especialmente dos militares, de membros do próprio Governo, da Igreja e de setores da Imprensa, como a Federação Nacional dos Jornalistas, pela assinatura do tal decreto dos Direitos Humanos, hoje, ligeiramente modificado, mas não o suficiente.
Para tentar defender o Chefe, os seus auxiliares mais próximos chegaram a desmentir uma informação que correu pelo mundo a fora que o Presidente não teria lido o decreto antes de assinar. Pegou mal, considerando que a emenda foi pior que o soneto. Era melhor calar e deixar a coisa passar.
Bem. Se o presidente Lula leu ou não o Decreto antes de assinar,no que sinceramente não creio, já o seu braço direito no Governo, a coordenadora dos ministros, a ministra chefa da Casa Civil, teve tempo de sobra para ler e reler o tal decreto. O documento, segundo fontes devidamente creditadas, passou mais de dez dias na mesa da ministra. Se não leu foi porque não quis ou então não teve tempo, em função das muitas e constantes viagens que desde o ano passado tem feito pelo país inteiro acompanhando o presidente.
O retrocesso do presidente Lula alterando alguns poucos pontos do polêmico decreto, parece que acalmou um pouco a turma do Governo, especialmente alguns ministros que andavam quase se engalfinhando pelos luxuosos corredores de Brasília,mas, ainda existe muita água correndo por debaixo dessa ponte e ainda poderá se transformar numa enchente em ano eleitoral.As chamas apagaram, mas ficou a fumaça, sinal de que ainda existe um foco de fogo e isso é perigoso.
A situação ficou ruim, ou melhor, muito desconfortável para o Presidente, que é também o comandante em Chefe das Forças Armadas, ao ceder as pressões dos seus subordinados comandantes militares, culminando com a alteração do texto do documento que desagradava aos militares, remexendo os arquivos e a história da ditadura.
Como será que ele vai conseguir explicar esse fato. Porque será que a ministra, que deve ter um pouco mais de tempo do que o presidente para ler esses documentos, não analisou e não alertou o Chefe para o que poderia ocorrer. Será que ela leu com atenção o decreto ou não levou a coisa muito a sério. A turma da oposição, certamente vai perguntar isso ela durante a campanha.
Tem ainda a questão do aborto, que contraria muito a Igreja, da turma do agro-negócio (latifundiários), da onda de plebiscito e da mordaça que o Decreto prepara para a imprensa brasileira, que a exemplo de tantos heróis que lutaram para que hoje vivêssemos numa democracia,incluindo-se aí o presidente Lula e a ministra Dilma, tanto lutou para que a democracia se estabelecesse em nosso País.
Agora, um dos grandes líderes desse movimento libertário, que foi o próprio presidente Lula na qualidade de sindicalista do ABC paulista, fundador e o maior líder da história do Partido dos Trabalhadores, tenta agora amordaçar a imprensa, com a imposição de uma “censura prévia”. O fato fere a Constituição, quando afirma em seu bojo que a imprensa é livre e o pensamento também.
Nunca é de mais lembrar, que a imprensa livre, sempre funciona como o alicerce mais forte das grandes democracia e se os todos poderosos senhores e senhoras do Planalto não sabem ou esqueceram, poderemos lembrá-los, que é impossível existir uma democracia sem uma imprensa livre, responsável e soberana.
A imprensa, ou melhor, a mídia, é responsável em todos os seus seguimentos. Se o jornalista comete atos considerados ilícitos ou criminosos numa matéria, ele será chamado e responderá perante a Justiça, o mesmo ocorrendo com as empresas de Comunicação. Ora, se a coisa funciona assim, porque então o Governo prevalecendo-se dos direitos humanos quer intimidar a imprensa com esse instrumento, que funcionará de fato como uma censura prévia, lembrando dos anos 60 e 70. Não é assim que se pratica democracia.

*Osny Araújo é jornalista e analista político.
e-mail: osnyaraujo@bol.com.br

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