segunda-feira, 28 de setembro de 2009
AGRONEGÓCIO: COARI- *Thomaz Meirelles
Em atendimento ao convite formulado pelo gerente do escritório do Idam do município de Coari, Marildo Ximenes, participei do I Encontro de Castanheiros daquela região com a tarefa de levar informações sobre o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), o Provb (Programa de Vendas em Balcão) e, também, sobre a Política de Garantia de Preços Mínimos da sociobiodiversidade, que ampara os extrativistas de açaí, castanha-do-brasil, borracha e piaçava. Por medo de avião, mas também amante da paisagem amazônica optei em me deslocar na lancha “Ajato” de propriedade do competente Aguiar. Foram oito horas de uma viagem tranqüila, almoço caseiro pra ninguém botar defeito e algumas constatações, com destaques para o excessivo esforço de pesca, áreas de várzea totalmente improdutivas, produtores rurais desinformados e desorganizados e uma Coari extremamente movimentada (hotel lotado, “macacão laranja” da Petrobrás em todas as direções e um porto que, brevemente, deverá ter o tráfego disciplinado). Enfim, os efeitos de Urucu causam saudável inveja ao crescimento econômico de qualquer outro município amazonense, inclusive da minha Parintins. Quem conhece o trecho Manaus/Coari sabe que a viagem permite a visão frontal das cidades de Iranduba, Manacapuru e Codajás. A diferença de movimentação nos portos desses três municípios é incomparável com a situação que presenciei ao chegar a Coari. São realidades totalmente distintas. Espero, sinceramente, que o povo de Coari tenha acertado na escolha do novo prefeito (eleição foi no último domingo), pois o município merece e tem todas as condições para crescer e proporcionar dias melhores aos seus habitantes.
Comer e Vender
Fiquei impressionado com o número de redes de pesca ao longo da viagem. É muita rede, e em todo o trecho Manaus/Coari. E tem mais um detalhe, elas são estendidas nas margens e no meio do rio. E não tem jeito, pois, hoje, e infelizmente, é a única forma do caboclo comer e conseguir algum trocado. Senão vejamos: as casas foram alagadas na última enchente e a produção de alimentos básicos ainda não atingiu os patamares desejados. Comer somente “peixe com farinha” é dizer que tá bom, é pura brincadeira. Cadê o feijão, arroz, leite e a carne? Os programas de governo, dos três níveis, atendem uma pequena parcela desse público. E os outros? Para reverter este quadro é preciso mais crédito (maior número de bancos oficiais), mais sementes (preferencialmente produzidas no Amazonas), mais assistência técnica (Idam maior e com PCCS aprovado), mais informação (usar canais públicos de rádio e TV) e escoamento da produção (barcaças com área de estocagem e frigorífico) para as grandes calhas de rios. No atual estágio do setor primário regional a participação do poder público ainda é imprescindível.
Primeiro Encontro?
Pela importância econômica e social que representa o extrativismo de castanha-do-brasil jamais poderia estar sendo realizado o “primeiro” encontro de castanheiros. No mínimo, deveria ser o décimo, vigésimo, trigésimo e por aí vai. Tal fato comprova a total desarticulação do setor rural naquele município. Lá, todas as “fichas” estão sendo jogadas em Urucu, mas não pode ser assim. “Urucu” deve servir de instrumento para desenvolver outras atividades, entre elas, viabilizar o crescimento sustentável do setor rural com o cacau, borracha, açaí, castanha-do-brasil entre tantas outras riquezas naturais. Em conversa com alguns extrativistas pude observar que a negociação da atual safra de castanha ocorreu abaixo do preço mínimo fixado pelo governo federal, ou seja, entre R$ 30 e R$ 35 o hectolitro (o governo federal garante R$ 52,49 o hectolitro). Numa conta matemática simples, os extrativistas deixaram de acessar aproximadamente R$ 22,49 p/hl em subvenção (diferença do valor negociado com o preço mínimo) por falta de informação, desarticulação e de comprometimento dos gestores municipais. Se a subvenção chegou a Itacoatiara, Carauari, Manicoré e Canutama, qual seria o motivo de não ter beneficiado os agricultores de Coari? O município do “gás” está na lista dos municípios sem qualquer tipo de ação por meio do Programa de Aquisição de Alimentos, o PAA. De acordo com o secretário de produção o município possui mais de mil extrativistas de castanha e, em 2008, a produção alcançou 36 mil hectolitros. Não poderia deixar de fazer este registro. Durante a viagem de ida, ao meu lado, fui conversando com um comprador de produtos regionais (castanha e cacau), ou seja, nossos produtos, em certos casos, continuam sendo levados e beneficiados no vizinho Estado do Pará. O preço pago ao nosso caboclo? Só o “atravessador” sabe!
Parceiros
Finalizando a coluna de hoje, quero agradecer o convite e parabenizar a iniciativa do amigo Marildo Ximenes, gerente do Idam/Coari, pela iniciativa do evento. Não tenho dúvida que as ações irão acontecer, pois contarão com a boa vontade do Banco do Brasil/Agência Coari (Ludmilson, Junior e Lyzandra), OCB/Sescoop (o botafoguense Petrúcio), Jorge Campos (Professor da Ufam), Nadielle (técnica do Idam/Central), Manuel Cunha (CNS) e de toda a equipe da Conab. Até a próxima semana, e boa Expoagro.
*Thomaz A P Silva Meirelles – administrador, funcionário público federal, especialista na gestão da informação do agronegócio. E-mail: superbox@argo.com.br / thomaz.meirelles@hotmail.com
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