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sábado, 27 de março de 2010

Alívio, lamento e dor
"A justiça está feita, mas minha filha não vai voltar"

S. Paulo - A mãe de Isabella Nardoni, a bancária Ana Carolina Oliveira, (foto), de 25 anos, afirmou na tarde deste sábado (27) que está feliz com a condenação de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, acusados de matar a menina em março de 2008. “A justiça está feita, mas minha filha não vai voltar”, disse, emocionada, em frente ao prédio onde mora, na Vila Maria, Zona Norte de São Paulo.
“Não pude acordar hoje e ter o abraço dela [Isabella]”, lamentou. “O vazio ficou e a saudade ficará.” Ana ficou sabendo do resultado do julgamento, divulgado na madrugada deste sábado, por uma mensagem no celular. Alexandre foi condenado a 31 anos de prisão e Anna, a 26 anos.
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Apesar de ter entrado na sala do júri para prestar depoimento, na segunda-feira (22), Ana não chegou a ver o casal Nardoni. "Quando eu entrei na sala eu não consegui vê-los. Eu estava bastante tensa. Eu não consegui enxergá-los, mas também nem era do meu interesse olhar para a cara deles."
Para ela, é muito difícil chegar próximo ao casal. “É muito difícil você estar frente a frente, é cruel, é deprimente você estar frente a frente com a pessoa que em vez de zelar pela integridade dela, eu entreguei ela para passar o final de semana com ele viva, inteira, sem um arranhão. E não foi isso que eu obtive naquela noite.”
Isolamento
Ana ficou isolada em quatro dos cinco dias de julgamento no Fórum de Santana. A defesa de Alexandre e Anna Jatobá pediu autorização para que a mãe de Isabella ficasse à disposição para uma possível acareação com o casal. Para ela, isso foi uma surpresa. “Quando eu terminei de falar, o juiz pediu para eu ficar. Demorei um pouco para entender porque o advogado deles falou que eu ia dar uma entrevista coletiva, mas eu não tinha nem cabeça.”
Eu não consegui enxergá-los, mas também nem era do meu interesse olhar para a cara deles"
O quarto onde ficou de segunda a quinta-feira era pequeno, tinha uma bicama e outras duas camas. Para circular o ar, havia um ventilador, mas o quarto era muito quente. "Algumas vezes fui até a sala da enfermaria por me sentir mal, para medir a pressão.”
Durante os três dias de isolamento, ela contou ter lido um livro inteiro, chamado “Aline”. “Fiquei isolada, sem saber de nada. Foi o processo da morte da minha filha, que eu não pude acompanhar. Achei uma maneira cruel eu não estar lá. Fiquei muito abalada, fiquei bem mal”, afirmou. “Procurei me cuidar para poder suportar aquele momento, mas fiquei quase em uma prisão, não podia me comunicar com ninguém, não tinha minha família.” Eu diria que regredi os dois anos que eu tentei progredir
Ao ser liberada, na noite de quinta-feira, Ana afirmou que estava muito abalada. Por isso, ela preferiu não acompanhar a decisão do júri. Segundo o promotor Francisco Cembranelli, a assistente de acusação Cristina Christo enviou a mensagem assim que a sentença foi lida, pois Ana estava ansiosa para saber a decisão.
Após toda a tensão dos últimos dias, Ana Carolina contou estar sendo acompanhada de perto por seu terapeuta. “Foi muito difícil essa semana toda, não era algo que eu estava esperando, ficar presa. Eu diria que regredi os dois anos que eu tentei progredir.”
Expectativa
Com ar bastante cansado e cercada pela família, ela contou que a expectativa dos últimos dias –parte dos quais passou isolada no Fórum de Santana– a deixou muito cansada. Por isso, ainda não pensou no futuro. “Ainda estou em uma fase de processamento. Ontem [sexta] aquele dia todo de tensão, você não tem muito tempo para analisar, a ficha está caindo. A partir de segunda tudo vai começar, vou retomar a vida de novo.”
“A condenação foi uma resposta de que a justiça foi feita. Era o que eu esperava, era o que eu estava confiante, sabia que tinha muita gente competente trabalhando todo esse tempo.” Além da camiseta com imagem da filha, ela estava usando uma corrente com um pingente em forma de coração com uma foto dela e da filha – segundo ela, uma maneira de carregar Isabella com ela todos os dias.
Sobre os fogos de artifício soltos no fórum após a sentença, ela disse que foi uma reação esperada das pessoas. “Foi uma maneira de as pessoas externarem tudo aquilo que elas sentiram, pela injustiça, pela impunidade, por toda aquela tragédia.”
Ela também comentou o regime de progressão que permitirá que os dois condenados saiam da cadeia antes do fim da pena: “Eu acho que existe uma falha na lei em relação a isso”.
Ana aproveitou a ocasião para ressaltar que acredita que o juiz Maurício Fossen “foi muito ético e competente” e agradeceu ao apoio recebido durante os últimos dois anos. “Deixo meu carinho, abraço e gratidão.”(G-1)

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