quinta-feira, 23 de julho de 2009
FOI-SE O MITO,FICOU A HISTÓRIA -* Osny Araújo
A história política amazonense sepultou no cemitério São João Batista, em Manaus, a figura mais emblemática de mais de meio século de vida pública e ações políticas dignas de um “cacique”.
Morreu o ex-tudo em política, o professor Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo, que foi prefeito de Manaus, governou o Estado por três vezes e terminou a sua carreira como senador da República.
Mestrinho, apelidado pelos adversários de “boto tucuxi”, apelido mais tarde incorporado por ele na sua vida política, era como todos os populistas, um político amado pelos seus correligionários e odiado pelos adversários, mas ainda assim, admirado por todos.
Homem obstinado pelo Poder, o professor, como gostava de ser chamado, era um político de voz mansa, com discursos pausados, pontual nas suas afirmações e convicções, por isso, construiu uma legião de admiradores e muitos adversários que não entendiam bem tamanho sucesso na sua vida política.
Levado para a política pelo ex-governador Plínio Coelho, que o nomeou prefeito de Manaus, aos trinta anos chegou ao Governo do Estado para fazer história. Criou uma verdadeira escola política, hoje com muitos seguidores como Amazonino Mendes, Eduardo Braga, Omar Aziz e outros, além de ter feito nascer no Amazonas o chamado “Gilbert ismo”, que certamente foi sepultado com ele.
Conhecedor das coisas do Amazonas e da Amazônia como poucos, como governador sempre defendeu os mais humildes, os menos favorecidos e certamente, foi protagonista de muitas realizações no Estado, tanto no campo econômico como no social, sempre olhando para o futuro com o olhar fixo e destemido de um caboclo que conhecia muito bem as dificuldades do seu Estado e as necessidades do seu povo.
Perseguido e cassado pela revolução, Mestrinho com paciência, esperou 16 anos para retornar a política e voltou por cima como governador do Estado, numa conturbada eleição, onde demonstrou todo o seu prestígio, carisma, populismo, poder de barganha e a postura de um grande líder. Desde então, passou a dar as cartas na política amazonense com sabedoria, inteligência e maestria.
No cenário nacional, sempre foi muito respeitado, por isso, tinha trânsito livre pelos difíceis corredores dos refrigerados gabinetes dos ministros em Brasília, sempre em busca de benefícios para o Amazonas.
O que se pode dizer, é que Gilberto Mestrinho, o político de voz pausada e calma, entra para a história do Amazonas como um dos políticos mais importantes, talvez, só comparado ao “tuxaua” Álvaro Maia, cada um, com as marcas do seu tempo.
Hoje, não se pode falar na história política do Amazonas sem mencioná-lo. A sua participação política em mais de meio século de vida, deve ser vista pelos estudiosos, pesquisadores, e historiadores com muito carinho, para se descobrir realmente, o que representou esse mito, esse líder populista, que logo no seu primeiro Natal como governador, distribuiu brinquedo às crianças, conquistando eternos votos dos pais naquele momento e das crianças que se tornaram eleitores. Foi sim, uma jogada de mestre.
Acho que a bonita e longa história política do professor, merece ser olhada com carinho pelo mundo acadêmico, até para teses de mestrado e quem sabe, possamos descobrir com maiores detalhes o que foi na realidade o homem, o político e o mito.
Gilberto perdeu a sua derradeira batalha num leito de hospital, mas não perdeu o carinho do seu povo e o respeito dos seus adversários que foram também, dar o seu último adeus, prestar a derradeira homenagem, quem sabe a um dos últimos caudilhos da política brasileira.
Mestrinho partiu, mas deixou a sua história. Uma história de cumplicidade com os seus amigos, eleitores e também de amor ao Amazonas. Uma história lendária como existem muitas por aí evocando o famoso boto tucuxi.
Osny Araújo é jornalista e analista político.
e-mail: osnyaraujo@bol.com.br.
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