CAMPINEIRO: O BOI VERDE E PRIMO POBRE,
O EXCLUÍDO DO FESTIVAL DE PARINTINS
Osny Araújo
Parintins - Na badalada história do Festival Folclórico de Parintins
que este ano comemora o centenário dos bumbas “Caprichoso e Garantindo”,
esqueceram de um terceiro, o primo pobre dos bois de pano , o Campineiro, que
foi alijado do festival e que também estaria comemorando o centenário, uma vez
que foi fundado em 1913.
Enquanto Caprichoso e Garantido
são famosos no mundo inteiro, com suas imagens e todas correndo os quatro
cantos do planeta, o primo pobre, se contenta a fazer as suas festinhas
realizadas pela comunidade do Aninga, local onde nas céu, sem o aparato e o luxo das apresentações dos
primos ricos no bumbódromo de Parintins, que a partir deste ano passa a ser
chamada de Arena.
O repórter que ainda criança
residiu e estudou um ano em Parintins, no então Grupo Escolar “Araújo Filho”,
recorda com precisão de ter visto o Campineiro se apresentando pelas ruas da
cidade, a exemplo de Caprichoso e Garantido, quando a brincadeira de boi se
resumia numa apresentação mínima para a própria
cidade, com os brincantes trazendo um par de madeira para animar as todas,
numa espécie de bate-palmas, marcando o ritmo das toadas.
Naquela época, no início dos
anos 60, a rivalidade entre Caprichoso e Garantido já era muito grande e sempre
que se cruzavam lá pela rua Amazonas, ainda sem asfalto, no puro barro, a briga
começava. Era pancada para todos ao lados. Uma verdadeira guerra e o Campineiro, o boi que
defende as cores verde e amarela, por
ser uma espécie do time do América do futebol, com pouca torcida, passeava pela cidade sem ser molestado, apenas
com os seus poucos torcedores dançando alegremente na quadra junina.
Como se pode notar, a cidade de
Parintins que hoje é bicolor, dominada pelo Azul e Vermelho, poderia ser
tricolor, com a inclusão do verde, a cor
defendida pelo “boi de pano” excluído do Festival mas que insiste em existir e
pobre, mas com alegria, continua brincando de boi no mês de junho no Aninga
para alegria da comunidade, mas, o que eles gostariam mesmo é de estar na
disputa no bumbódromo ou na Arena completando o espetáculo que é mostrado para
o mundo por Caprichoso e Garantido.
Nesse aspecto, o Caprichoso
representaria a elite, o Garantindo o
mais popular e o Campineiro ficaria com a representação das camadas mais pobres
do município, mas como sempre ocorre com a classe pobre, no festival o pobre
também foi excluído.
RESGATE
DA HISTÓRIA
No momento em que Parintins realiza
o Festival do centenário de Caprichoso e Garantido, o jornalista Jonas Santos,
se prepara para lançar um livro, resgatando essa história e dando visibilidade
ao nome do bumbá Campineiro e mostrando ao mesmo tempo, que apesar da cidade
dividida pelo Azul e Vermelho, existe também um pequena parte verde, que insiste em torcer
pelo Campineiro, que mesmo alijado pelos poderosos bumbas da Arena, persiste no
coração de muitos parintinenses, na Ilha Tupinabarana.
No livro “Boi Campineiro: O boi
excluído do Festival de Parintins”,que será lançado na semana do Festival em
Parintins que será publicado com a chancela do Governo do Estado, através da
Secretaria da Cultura, Jonas Santos, procurou levantar muitos detalhes e
informações esta interessante e história e a partir de agora, certamente muitos
ficarão sabendo que além de Caprichoso e Garantido existe o Campineiro na Ilha,
que mesmo alijado da grande festa não morreu e também sem as pompas dois
primos ricos, também comemora o seu
centenário.
Durante um ano, o jornalista e
escritor se debruçou sobre rascunhas da
história, conversou com os antigos da cidade, entrevistou personalidades do
povo e intelectuais, historiadores, membros dói Instituto Geográfico e
Histórico de Parintins e assim foi colhendo subsídios para recompor a verdadeira história dos bumbas de
parintinenses, que ao invés de dois, são três, isto, contando com o Campineiro,
o alijado do Festival.
Segundo o livro a ser lançado
agora, o Campineiro teria participado no início do Festival e a sua última
apresentação de trinta anos passados e a
partir daí, alijado do grande evento, continua vivo, mas desassistido pela
própria população da cidade e autoridades. Sobrevive apenas no seu território,
o bairro do Aninga para a alegria da comunidade que teima em torcer pelo boi
que defende a cor que defende a cor verde, que carrega no corpo a cor cinza e
uma grande estrela amarela na testa, como se fosse o sol.
Santos, que é integrante da
nação vermelha, chegou a conclusão de
que o Campineiro não tem possibilidade de retornar ao Festival, em função da
consolidação de apenas duas torcidas na cidade, a azul e a vermelha e afirma
que a extinção do terceiro boi se deve a três fatores: Falta de apoio
financeiro, desorganização interna da agremiação, articulações e pressões dos dois bumbas
contrários.
O escritor afirma
categoricamente que o Campineiro apesar de ter se apresentado juntamente com o
Caprichoso e o Garantido, não resistiu ao forte jogo de interesses, que envolve
o poder e não teve força suficiente e para evitar a sua retirada do Festival de
Parintins, talvez a maior manifestação folclórica do norte brasileiro.
EM
BUSCA DA TORCIDA
Com a instituição de outra arquibancada, apelidada de “verde”, os dirigentes
do Campineiro, estarão nessa se nessa arquibancada e esperam com isso começar
a fazer o nome do boi conhecido e conquistar torcedores neutros.
Isto será possível porque os
neutros assistirão o festival de uma alheios as arquibancadas dos famosos e
ficará situada exatamente numa divisória das famosas torcidas azul e lá estará
a verdade, a cor do excluído da grande festga popular.
Entusiasmado com essa possibilidade, o presidente
da agremiação, Eduardo paixão de Souza (60), convida os apreciadores do
Festival, mas que ainda não torcem por nenhum bumba que adotem o Campineiro.
“Estaremos de braços abertos para recepciona-los” – garante o presidente
campineiro.
SEM
DISPUTA
Conformado com o abandono e ostracismo
em que vive, o presidente garante que não tem interesse em que o Campineiro
volte a disputar o Festival. “Queremos apenas que o nosso boi tenha o seu nome conhecido e fazer parte
desta bonita história da qual juá participamos algum tempo. Isso nos basta. Não pensamos e nem queremos
disputar o Festival com os nossos primos ricos. Queremos apenas resgatar a
nossa identidade histórica” – afirma.
Disse ainda que o maior
problema da agremiação é recurso e os grandes partidos estão dividindo
patrocínios com Caprichoso e Garantido e aí, para o desconhecido e alijado
Campineiro a situação se apresenta muito
complicada, mas ainda assim, confirmou
que este ano o Campineiro se
apresentará na Praça da Catedral, por ocasião da Festa da padroeira Nossa Senhora
do Carmo, logo após o Festival.
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