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sábado, 22 de junho de 2013


CAMPINEIRO: O BOI VERDE E PRIMO POBRE,
O EXCLUÍDO DO FESTIVAL DE PARINTINS
 

Osny Araújo

 
Parintins - Na badalada  história do Festival Folclórico de Parintins que este ano comemora o centenário dos bumbas “Caprichoso e Garantindo”, esqueceram de um terceiro, o primo pobre dos bois de pano , o Campineiro, que foi alijado do festival e que também estaria comemorando o centenário, uma vez que foi fundado em 1913.
Enquanto Caprichoso e Garantido são famosos no mundo inteiro, com suas imagens e todas correndo os quatro cantos do planeta, o primo pobre, se contenta a fazer as suas festinhas realizadas pela comunidade do Aninga, local onde nas céu, sem  o aparato e o luxo das apresentações dos primos ricos no bumbódromo de Parintins, que a partir deste ano passa a ser chamada de Arena.
O repórter que ainda criança residiu e estudou um ano em Parintins, no então Grupo Escolar “Araújo Filho”, recorda com precisão de ter visto o Campineiro se apresentando pelas ruas da cidade, a exemplo de Caprichoso e Garantido, quando a brincadeira de boi se resumia numa apresentação mínima para a própria  cidade, com os brincantes trazendo um par de madeira para animar as todas, numa espécie de bate-palmas, marcando o ritmo das toadas.
Naquela época, no início dos anos 60, a rivalidade entre Caprichoso e Garantido já era muito grande e sempre que se cruzavam lá pela rua Amazonas, ainda sem asfalto, no puro barro, a briga começava.  Era pancada  para todos ao lados.  Uma verdadeira guerra e o Campineiro, o boi que defende as cores verde e amarela,  por ser uma espécie do time do América do futebol, com pouca torcida,  passeava pela cidade sem ser molestado, apenas com os seus poucos torcedores dançando alegremente na quadra junina.
Como se pode notar, a cidade de Parintins que hoje é bicolor, dominada pelo Azul e Vermelho, poderia ser tricolor, com a inclusão  do verde, a cor defendida pelo “boi de pano” excluído do Festival mas que insiste em existir e pobre, mas com alegria, continua brincando de boi no mês de junho no Aninga para alegria da comunidade, mas, o que eles gostariam mesmo é de estar na disputa no bumbódromo ou na Arena completando o espetáculo que é mostrado para o mundo por Caprichoso e Garantido.
Nesse aspecto, o Caprichoso representaria a elite, o Garantindo  o mais popular e o Campineiro ficaria com a representação das camadas mais pobres do município, mas como sempre ocorre com a classe pobre, no festival o pobre também foi excluído.
RESGATE DA HISTÓRIA
No momento em que Parintins realiza o Festival do centenário de Caprichoso e Garantido, o jornalista Jonas Santos, se prepara para lançar um livro, resgatando essa história e dando visibilidade ao nome do bumbá Campineiro e mostrando ao mesmo tempo, que apesar da cidade dividida pelo Azul e Vermelho, existe também um  pequena parte verde, que insiste em torcer pelo Campineiro, que mesmo alijado pelos poderosos bumbas da Arena, persiste no coração de muitos parintinenses, na Ilha Tupinabarana.
No livro “Boi Campineiro: O boi excluído do Festival de Parintins”,que será lançado na semana do Festival em Parintins que será publicado com a chancela do Governo do Estado, através da Secretaria da Cultura, Jonas Santos, procurou levantar muitos detalhes e informações esta interessante e história e a partir de agora, certamente muitos ficarão sabendo que além de Caprichoso e Garantido existe o Campineiro na Ilha, que mesmo alijado da grande festa não morreu e também sem as pompas dois primos  ricos, também comemora o seu centenário.
Durante um ano, o jornalista e escritor  se debruçou sobre rascunhas da história, conversou com os antigos da cidade, entrevistou personalidades do povo e intelectuais, historiadores, membros dói Instituto Geográfico e Histórico de Parintins e assim foi colhendo subsídios para recompor  a verdadeira história dos bumbas de parintinenses, que ao invés de dois, são três, isto, contando com o Campineiro, o alijado do Festival.
Segundo o livro a ser lançado agora, o Campineiro teria participado no início do Festival e a sua última apresentação  de trinta anos passados e a partir daí, alijado do grande evento, continua vivo, mas desassistido pela própria população da cidade e autoridades. Sobrevive apenas no seu território, o bairro do Aninga para a alegria da comunidade que teima em torcer pelo boi que defende a cor que defende a cor verde, que carrega no corpo a cor cinza e uma grande estrela amarela na testa, como se fosse o sol.
Santos, que é integrante da nação vermelha, chegou  a conclusão de que o Campineiro não tem possibilidade de retornar ao Festival, em função da consolidação de apenas duas torcidas na cidade, a azul e a vermelha e afirma que a extinção do terceiro boi se deve a três fatores: Falta de apoio financeiro, desorganização interna da agremiação,  articulações e pressões dos dois bumbas contrários.
O escritor afirma categoricamente que o Campineiro apesar de ter se apresentado juntamente com o Caprichoso e o Garantido, não resistiu ao forte jogo de interesses, que envolve o poder e não teve força suficiente e para evitar a sua retirada do Festival de Parintins, talvez a maior manifestação folclórica do norte brasileiro.
EM BUSCA DA TORCIDA
Com a instituição de  outra arquibancada, apelidada de “verde”, os dirigentes do Campineiro, estarão  nessa  se  nessa arquibancada e esperam com isso começar a fazer o nome do boi conhecido e conquistar torcedores neutros.
Isto será possível porque os neutros assistirão o festival de uma alheios as arquibancadas dos famosos e ficará situada exatamente numa divisória das famosas torcidas azul e lá estará a verdade, a cor do excluído da grande festga popular.
Entusiasmado com essa possibilidade, o presidente da agremiação, Eduardo paixão de Souza (60), convida os apreciadores do Festival, mas que ainda não torcem por nenhum bumba que adotem o Campineiro. “Estaremos de braços abertos para recepciona-los” – garante o presidente campineiro.
SEM DISPUTA
Conformado com o abandono e ostracismo em que vive, o presidente garante que não tem interesse em que o Campineiro volte a disputar o Festival. “Queremos apenas que o nosso boi  tenha o seu nome conhecido e fazer parte desta bonita história da qual juá participamos algum tempo.  Isso nos basta. Não pensamos e nem queremos disputar o Festival com os nossos primos ricos. Queremos apenas resgatar a nossa identidade histórica” – afirma.
Disse ainda que o maior problema da agremiação é recurso e os grandes partidos estão dividindo patrocínios com Caprichoso e Garantido e aí, para o desconhecido e alijado Campineiro a situação se apresenta  muito complicada, mas ainda assim, confirmou  que este ano o Campineiro  se apresentará na Praça da Catedral, por ocasião da Festa da padroeira Nossa Senhora do Carmo, logo após o Festival.
 
 
 

 

segunda-feira, 17 de junho de 2013



JUSTA HOMENAGEM
                                                                             Osny Araújo*
Através deste artigo, quero me associar à justa e merecida homenagem prestada pela Assembleia Legislativa do Estado, a um caboclo, que se transformou num grande nome nacional na advocacia e na política, por isso, foi o relator da nossa Constituição de 88, que comemora 25 anos, numa disputa que travou na Assembleia Nacional Constituinte, presidida à época pelo saudoso deputado federal Ulisses Guimarães (PMDB), com nada mais, nada menos que o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Refiro-me ao velho amigo, advogado José Bernardo Cabral,ex-presidente nacional da OAB, ex-deputado federal, ex-ministro da Justiça, ex-senador e relator da Constituinte, que deu origem a “Constituição Cidadã”, assim batizada por Ulisses Guimarães por ocasião da sua promulgação.

Recordo que em várias oportunidades, ainda atuando no centenário Jornal do Comércio e como chefe de jornalismo da então TV Baré, hoje TV Acrítica, fui a Brasília entrevista-lo numa missão quase impossível. O homenageado “fugia” do seu gabinete na Câmara dos Deputados para se debruçar sobre a relatoria da Constituição em locais fora da Câmara para fugir aos assédios e só o encontrava com a ajuda da amiga Marisa Seroa da Mota, ex-presidente da extinta EMANTUR, então secretária de Cabral que me confidenciava o esconderijo e assim facilitava a minha missão.

A sua preocupação com o futuro da Zona Franca de Manaus, já naquela oportunidade era uma das grandes preocupações do relator e ao concluir o texto lá estava o Amazonas inserido com garantias para a constitucionalidade desse que é o maior e mais vitorioso modelo regional de desenvolvimento socioeconômico que se tem notícia no Brasil e Cabral, tem uma importante participação em todo esse processo.

Ser humano nacionalista, ético, culto e inteligente, assumiu a relatoria da Constituição com o objetivo de construí-la justa, moderna e com um olhar futurista, por isso, enfrentou muitos lobis de políticos que não queriam uma constituição nacional e sim privilegiando regiões, mas Cabral conseguiu vencer todas as resistências e impor a sua marca na construção da Lei maior do País, em plena vigência.

O então relator ouvia constantemente dos parlamentares que não eram atendidos em seus pleitos fisiológicos que a nova Constituição não duraria seis meses e este ano, comemora vinte e cinco anos. Como dizia Ulisses, que essa Constituição tinha e tem o cheiro do amanhã, do futuro e não de mofo.

O fato é que essa construção arquitetada por um amazônida, ou melhor, por um caboclo amazonense, colocou o Brasil nos trilhos da modernidade, buscou meios para que o Brasil se tornasse um país mais justo e igualitário. Uma façanha na qual poucos acreditavam, da qual Cabral não arredou o pé um só milímetro, convicto da importância do trabalho que realizava, olhando o Brasil e os brasileiros como um todo e igualitário e assim foi feito e nasceu finalmente a Constituição Cidadã.

Infelizmente José Bernardo Cabral, um político e advogado probo, por ironia do destino e pela falta de compreensão dos eleitores amazonenses, que não o reconduziram para o Senado, para onde havia sido eleito anteriormente, resolveu se aposentar da vida política, assim como a advocacia e hoje, vive e muito bem, graças ao G.`. A.`.D.`.U.`., apenas trabalhando com consultorias, após ter escrito o seu nome nas histórias do Amazonas e do Brasil. Parabéns velho e querido amigo.

*Osny Araújo é jornalista e analista político.

E-mail: osnyaraujo@bol.com.br – amazonianarede@gmail.c