(Amazonianarede - Osny Araújo)
Manaus, a cidade morena, para muitos, a
Paris dos trópicos para outros, pela influência que sofreu logo no
início da sua história por países do velho continente, a capital
amazonense, a maior e mais rica da Amazônia brasileira, banhada pelo
caudaloso Rio Negro à sua margem esquerda, de clima tropical forte,
administrada no momento pelo prefeito Arthur Neto (PSDB), está
festejando amanhã, 24 de outubro, 344 anos de fundação.
Segundo antigos historiadores, as
primeiras construções na cidade ocorreram de fundos para o Rio Negro, a
exemplo do mercado Adolpho Lisboa, por isso, afirmam que ela nasceu de
costas para o rio e hoje caminha de frente para o futuro. Com esta matéria, o Portal Amazonianarede presta a sua homenagem a metrópole histórica e verde da Amazônia e de muitas recordações.
Manaus do Palácio Rio Negro, Praia da
Ponta Negra e seus arranha céus, do Parque do Mindu, da Zona Franca, do
Rodway, da Arena da Amazônia, dos luxuosos e sofisticados condomínios,
do Mercado Municipal Adolpho Lisboa, que após anos de reforma que amanhã
(24), será reinaugurado, do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, da
Ponte Benjamim Constant, da chegada da luz elétrica, dos balneários do
Parque 10, da Cachoeira do Tarumã e Ponte da Bolívia e Parque 10, do
Parque Amazonense, do clássico Rio X Nal, do Encontro das Águas que
inspirou o poeta cearense Quintino Cunha, para uma das suas mais belas
poesias, do Comando Militar da Amazônia, do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia, da Maloca dos Bares, palco de shows
inesquecíveis, do SIVAM E SIPAM, Hospitais Beneficente Portuguesa e
Santa Casa (hoje um prédio abandonado), dos colégios Pedro II, D. Bosco e
IEA e do centenário Jornal do Commercio e Radio Baré, cujo primeiro
nome foi Baricéia.
Recordamos ainda da chegada do bonde
elétrico, dos extintos restaurantes Chapéu de Palha e Gabriela, dos
cines Odeon, Avenida, Politheama e Guarany, Hotel Amazonas, um dos seus
primeiros arranha-céus, que hoje funciona como centro comercial e de
escritórios, do Hotel Tropical, das construções centenárias com estilo
europeu, Matriz de Nossa Senhora da Conceição, dos igarapés que cortam a
cidade, das palafitas e da extinta cidade flutuante, do terreiro da Mãe
Joana, além da culinária cabocla, a base do pescado à cozinha
internacional, das festas que eram realizadas nos tradicionais clubes da
cidade, como Barés, Nacional, Rio Negro, Olímpico e das famosas manhãs
de sol do Luso Sporting Club e União dos Estudantes do Amazonas (UESA),
São Raimundo entre outras.
Lembramos também, dos bares do Armando,
freqüentado por intelectuais e pseudos e Jangadeiro, ponto de encontro
dos mais humildes que caminham pelas redondezas do mercado Adolpho
Lisboa, das batalhas de confetes na Av. Eduardo Ribeiro, do Arraial da
Vila Municipal, Festival Folclórico no estádio General Osório, da boneca
carnavalesca Kamélia, do Olímpico Club e tantas outras coisas desta
terra de um povo hospitaleiro e acolhedor e do rico e variado
folclórico, ainda sonha com um futuro melhor, com mais ordenamento,
transito com maior fluidez, mais segurança, educação, saúde pública, em
fim, mais condições de vida para os seus habitantes e visitantes.
A cidade, mesmo com todo o crescimento
urbano que experimenta, ainda preserva o charme da arquitetura
parisiense, característico das obras realizadas no início da sua rica
história.
Contrastes da cidade
Cidade plantada a margem esquerda do
Negro, em meio à selva amazônica, que ainda não é totalmente arborizada,
tem muitos contrastes, como alguns que a partir de agora enumeramos
aqui. No futebol, as maiores torcidas são para os clubes cariocas,
talvez pela falta de organização e gestão do nosso futebol.
Aqui temos também o chamado Plano
Inclinado, o bairro de Aparecida, tem como padroeira Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro e as novenas em louvor a Nossa Senhora do Perpetuo
Socorro, são celebradas as terças feiras na Igreja de Aparecida.
A cidade abriga o bairro das Flores,
onde não existem ruas ou praças ajardinadas e nenhuma floricultura, isso
para não falar na Igreja de Santo Antonio, apelidada de capela do pobre
diabo, no bairro da Cachoeirinha e na Praça dos Remédios, onde não
existe nenhuma farmácia ou drogaria.
O bairro de Aparecida, tradicionalmente
habitando no seu início por portugueses, tem como padroeira uma santa
negra, a padroeira do Brasil, Nossa Senhora de Aparecida e a Praça 14 de
Janeiro, berço de sambistas e onde no início foi habitado por milhares
de negros, sem nenhum laço com Portugal, tem como padroeira uma santa
portuguesa, Nossa Senhora de Fátima.
Apesar de ser banhados por um dos
maiores rios de água doce do mundo, vários de seus bairros periféricos
ainda não são servidos por uma rede de água encanada. Este talvez seja
um dos seus piores contrastes.
Um passeio pela história
Para comemorar os 344 anos de Manaus,
vamos fazer um ligeiro passeio pela sua história, relembrando um pouco
da Manaus mais que tricentenária famosa por ser considerada a Paris dos
trópicos.
Iniciamos o nosso passeio, recordando os
tempos áureos da borracha, ocorrido nos século XIX e dar uma grande
caminhada pela sua história é talvez a melhor maneira de comemorarmos os
344 anos da capital do Amazonas.
Famosa por ser a ‘Paris dos Trópicos,
Manaus oferece ao público uma eclética história, que recorda os tempos
áureos vividos com a ascensão da borracha na capital – séculos XIX e XX,
quando a cidade respirava usos e costumes europeus, especialmente
Paris, tempo também, conhecido como “Belle Epoque”, escrita por vários
famosos historiadores.
O tempo passou o desenvolvimento, aliado
ao progresso e ao modernismo, chegou mais não tirou o seu lado caboclo
de ser, embora hoje seja uma das grandes metrópoles brasileiras.
Cíclo da Borracha
Ninguém pode falar de Manaus sem dedicar
um capítulo especial ao ciclo da borracha, que entre outras coisas,
protagonizou o primeiro movimento migratório para o Amazonas, todos
fascinados pelo látex, também conhecido à época como “ouro branco”,
extraído das nossas florestas, com uma grande participação dos irmãos
nordestinos, especialmente do Ceará, considerados” soldados da
borracha”.
Na metade do século XX, um surto de
desenvolvimento tendo como base essa preciosidade das nossas florestas,
especialmente da região do rio Purus, provocou uma grande revolução no
desenvolvimento da cidade e aqui se estabelecia entre outras coisas
importantes, um jornal impresso, sistema de abastecimento d’água,
telefone e chegava também à luz elétrica e o bonde.
Ainda naquele período, a aniversariante
de hoje se transformava no centro econômico do País e tudo graças ao
chamado leite da seringueira, que mais tarde, “migrou para a Ásia” e a
economia amazonense e Manaus entraram em profunda decadência e o seu
declínio foi absoluto e por muito tempo, sobrevivendo à duras penas
nesta Amazônia fantástica, longe dos grandes centros, ou seja, no mais
completo isolamento.
Charme parisiense
Apesar do modernismo, a cidade ainda
insiste em preservar o charme da arquitetura parisiense, característica
de grandes e monumentais obras realizadas naquele longínquo período
áureo, tais como o Palácio da Justiça, o Teatro Amazonas, o Palácio Rio
Negro, a Igreja de São Sebastião, a Alfândega e outros, ocorrido já após
o século XX.
Quando o Amazonas e Manaus começaram a
perder a hegemonia da borracha e sua economia definhou, aos poucos a
cidade transformou-se num porto de lenha, como diz muito bem a musica do
jornalista e amigo Aldizio Filgueiras e Cilene, intitulada “Porto de
Lenha”, até que no Governo Militar do saudoso presidente Humberto de
Alencar Castelo Branco, através do Decreto-lei 288, de 28 de fevereiro
de 1967, implantou a Zona Franca de Manaus, e a partir daí, começou um
no novo ciclo na sócia-economia do Estado e a cidade voltou a respirar
aliviada, gerando empregos no comércio, indústria e serviços e cidade
começou a uma grande massa de migrantes, que para cá vinham em busca de
oportunidades de trabalho.
Esse modelo de desenvolvimento, foi
idealizado pelo então a deputado federal pelo Amazonas, Francisco
Pereira da Silva , através da lei 3.173 de 6 de junho de 1957, ou seja,
dez anos após a aprovação da lei, o modelo foi implantado.
A partir daí, a cidade começou a ganhar
shoppings, luxuosos hotéis, universidades particulares e outros
equipamentos necessários ao bom funcionamento de uma metrópole e dessa
forma, começou uma grande expansão horizontal e vertical e como tudo tem
mão e contramão, surgiram também às favelas e a proliferação das
palafitas de forma bem desordenada, fruto das invasões que a cidade
sofria naquele momento, com muitos desses problemas, perdurando até os
dias atuais, como a violência urbana.
Retornando aos velhos tempos, vale
ressaltar que o Largo de São Sebastião é considerado um dos mais
valiosos patrimônios históricos da cidade e engloba a Praça de São
Sebastião, juntamente com o Monumento de Abertura dos Portos do Amazonas
ao Comércio Mundial (1866), o Teatro Amazonas (1896), a Igreja de São
Sebastião (1888), Núcleo de Artes Plásticas do Centro Cultural Cláudio
Santoro, Casa J.G Araújo, Casa do Restauro, Casa Ivete Idiapina e a Casa
das Artes.
Cultura e lazer no largo
O Largo acolhe todos os tipos de
atividades, desde o ambiente calmo de uma praça, alimentação de boa
qualidade e diversas manifestações culturais.
Muitos artistas de rua se apresentam
pelo espaço e o público não precisa pagar nada por isso, apenas curtir
uma boa música ou, quem sabe, uma performance teatral gratuita.
Há opções de lazer para adultos e
crianças, normalmente a programação cultural começa nas noites de
sexta-feira e seguem até domingo, além disso, há o passeio de charrete,
onde estão disponíveis ao público duas charretes que fazem um tour pela
história de Manaus.
Aos sábados e domingos, a partir das
17hr, ocorre o ‘Cinema no Largo’, onde há apresentação de filmes
infantis. Para os adultos há a programação do ‘Cinemantigo’, a partir
das 19hr, transmitindo filmes clássicos de grandes nomes da história do
cinema mundial.
Há épocas do ano em que o Teatro
Amazonas oferece o Festival de Ópera e o Amazon Film Festival, onde
muitos espetáculos são realizados em torno da praça, também com a
participação de grandes artistas nacionais e internacionais durante
esses eventos culturais.
O lugar também oferece várias opções
para os amantes de refeições rápidas com restaurantes, lanchonetes e até
mesmo quiosques especializados em comidas regionais, como pirarucu de
casaca, caruru e o famoso tacacá, sem esquecer o açaí com guaraná.
A primeira faculdade
Coube a nossa mais que tricentenária Manaus, o privilégio de instalar a primeira faculdade brasileira.
A Escola Universitária Livre de Manáos
teve origem no Clube da Guarda Nacional do Amazonas, entidade fundada em
5 de setembro de 1906, e cujos Estatutos, publicados no ano seguinte,
previam a criação de uma escola prática militar.
O Clube da Guarda tinha, entre outros
objetivos, o de fomentar o desenvolvimento profissional de seus
associados e cultivar as ciências auxiliares da arte da guerra, além de
criar uma escola prática militar.
O que era aspiração máxima do
Clube da Guarda Nacional somente se concretizou em 10 de novembro de
1908 quando foi criada em Manaus a Escola Militar Prática do Amazonas.
A Escola mantinha apenas dois cursos um
preparatório e outro superior, ambos destinados à instrução militar de
oficiais da Guarda Nacional e de outras milícias.
Os cursos, porém, eram abertos a
qualquer brasileiro. Naquele mesmo ano, a Escola passou a chamar-se
Escola Livre de Instrução do Amazonas.
Menos de um ano depois,
em 17 de janeiro de 1909, a Escola de Instrução Militar do Amazonas se
transformava na Escola Universitária Livre de Manáos.
De acordo com seus Estatutos, elaborados
e apresentados pelo tenente-coronel Eulálio Chaves, a Escola deveria
manter os cursos das três armas, segundo o programa adotado para as
escolas do Exército Nacional.
Fora os cursos de instrução militar,
também seriam ministrados os cursos de Engenharia Civil, Agrimensura,
Agronomia, Indústrias e outras especialidades; Ciências Jurídicas e
Sociais, bacharelado em Ciências Naturais e Farmacêuticas e Letras.
Outros cursos deveriam ser criados posteriormente, com preferência o de
Medicina.
Dirigida em seu primeiro ano pelo Dr. Pedro Botelho
(1909-1910) e, posteriormente, pelo Dr. Astrolábio Passos, (1910/1926) a
Escola Universitária instalou seus cursos em 15 de março de 1910, em
sessão solene presidida pelo governador do Estado Antônio Clemente
Ribeiro Bittencourt. Em 13 de julho de 1913, a Escola Universitária muda
de nome, passando a chamar-se Universidade de Manaus.
A
experiência bem sucedida da primeira universidade brasileira durou
somente 17 anos, sendo ela desativada em 1926. A partir daí, passaram a
funcionar como unidades isoladas de ensino superior, mantidas pelo
Estado, as Faculdades de Direito, Odontologia e Agronomia.
Com a extinção das duas últimas, poucos
anos depois, restou apenas a Faculdade de Direito, que formou os
primeiros bacharéis em 1914, e foi incorporada pela Universidade Federal
do Amazonas. Esse elo histórico entre as duas instituições testemunha e
revalida a atual Ufam como a mais antiga universidade brasileira.
Criada pela Lei Federal 4.069-A, assinada pelo presidente João Goulart
em 12 de junho de 1962, a sucessora legítima da Escola Universitária
Livre de Manáos, a Universidade do Amazonas, teve seu Projeto de Lei, de
autoria do então deputado federal Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro
Filho, publicado no Diário Oficial da União em 27 de junho do mesmo ano,
mas só se instalou como Fundação de Direito Público mantida pela União
Federal em 17 de janeiro de 1965. O autor da Lei era pai do atual
prefeito de Manaus, Arthur do Carmo Ribeiro Neto.
Europa cabocla
Para quem já teve a oportunidade de
visitar a Europa pode observar que Manaus possui muito daquele
continente, marcada em especial na sua arquitetura eclética, que mistura
traços de arte barroca e do romantismo. O lugar é inspirador, talvez
porque essa mistura caracteriza um lugar único em plena Amazônia.
Uma das obras características da ‘Belle
Époque’ é a calçada do Largo, feita em ondas preto e branco para lembrar
o encontros dos Rios Negro e Solimões, os quais banham a capital e
formam o Rio Amazonas.
O calçadão foi finalizado em 1901 e
posteriormente, adotado em Copacabana (RJ), em 1905. A verdade é que
este tipo de arte veio de Portugal, onde decora a Praça do Rossio, em
Lisboa.
O desenho existe há muitos séculos e
homenageia o encontro das águas do Rio Tejo com o Oceano Atlântico e foi
idealizada em Manaus juntamente com a construção do Teatro Amazonas
devido à forte influência da cultura portuguesa na cidade.
Isto é Manaus, que se expande na
vertical e horizontal, onde vive um povo, hospitaleiro, alegre e feliz.
Manaus nasceu de costas para o rio, mas está de frente para o futuro.