VIDA DE CIRCO É PAIXÃO,
TRABALHO,
SUPERAÇÃO E MUITA ALEGRIA
Amazonianarede/Osny Araújo
Na era moderna, com o avanço
espetacular da alta tecnologia, o circo, um pouco mais moderno, mas sem perder
a sua essência, continua a fazer a alegria das plateias com seus astros nos
picadeiros.
Manaus - Os tempos mudaram, o
mundo sofreu e sofre várias transformações e a moderna tecnologia se espalha pelo
planeta e apesar disso, mesmo sofrendo alguns percalços, o circo continua em
atividade para a alegria de milhares de espectadores que adoram acrobacias, trapézios,
globo da morte, magias e especialmente palhadas nos picadeiros armados debaixo
de uma lona. é o circo na sua essência.
Como dissemos, os tempos
mudaram e o circo já não chama tanta a atenção das crianças e jovens como, por
exemplo, os nascidos nos anos 40, 50 e 60, quando ir a um espetáculo circense
era tudo de bom e o sonho de qualquer criança ou adolescente da época.
Hoje é diferente. Tem gente
nascido nas três ultimas décadas que nunca foi e nem tem pelo menos a
curiosidade de entrar num teatro coberto com lona e um picadeiro em lugar do
palco para assistir a um espetáculo de riscos, magia, perigos e muita palhada,
trocam, tudo pelos games, pelas conversas virtuais, pelos milagres dos
sofisticados televisores com HD, três Ds e por aí vai à farra da tecnologia e
com isso aos poucos o velho e querido circo vai sendo deletada dos serem
humanos que vão surgindo agora para o mundo.
Dizem os entendidos em arte,
que os verdadeiros atores e atrizes nasceram nos picadeiros e depois foram para
os palcos, telinhas e cinema, mas o grande aprendizado foi num teatro de lona e
em cima de um picadeiro grotescamente armado, num cenário onde tudo é diferente
e mais ou menos improvisado. É o circo em atividade enfrentando o cinema, os
teatros com as grandes peças produzidas e montadas e vai se perpetuando na
história universal, com produtor de um espetáculo variado e para todas as
idades, onde o riso e a gargalhada são apenas detalhes.
No circo tudo é muito
improvisado, mas de forma organizada. Nos ônibus/residências e trailer espalhados
pelo terreno onde o circo está armado, tudo parece desorganizado dentro de uma
organização perfeitamente entendida pela família circense, onde as
individualidades familiares são respeitadas, mas no final, todos os integrantes
se consideram apenas como uma grande família e por funciona a máxima dos Três
Mosqueteiros “um por todos e todos por um”. É assim que a coisa funciona.
Mas o fato é que apesar de
todos esses desafios o circo. Um pouco diferente, é verdade, mais moderno,
reciclado, mas mantem a sua tradição de produzir espetáculos para todas as
idades e repleto de malabarismo, com voos sensacionais dos trapezistas, a
ilusão passada pelos mágicos do picadeiro, o suspense do famoso globo da morte
e suas motos e a fabrica de risos sob a responsabilidade dos palhaços, o xodó
das crianças, mas que também conseguem agradar a adolescentes e senhores e
senhoras com idades mais avançadas. O espetáculo é endereçado a todos e a todas
as idades.
SUPERAÇÃO SEM LIMITES
Aproveitando a temporada que o
Circo Kroner, natural do Rio Grande do Sul mais uma vez faz em Manaus,
iniciando com o circo armado na Torquato Tapajós, próximo a Philips e agora
chegado a Avenida André Araújo, ao lado da Superintendência do INCRA, a
reportagem do Portal Amazonianarede, resolveu lá comparecer fora do horário
do espetáculo e saber um pouco desses artistas circenses, meio ciganos, meio
nômades, que levam a vida pra lá e prá, sem paradeiro ou endereço fixo.
Uma vida realmente diferente e
interessante, mas para isso, é preciso ter no sangue a vocação circense, que
parece ser algo hereditário, uma vez que geralmente toda a família na hora do
espetáculo entra no picadeiro.
O repórter foi recepcionado
pelo diretor de Marketing da organização, Sr. Fábio Lisboa, mas logo entrou na
conversa o “Pipico”, um quase aposentado palhaço, que fez questão de dizer que
nasceu em Manaus, mas por falta de tempo não conhece a sua cidade e nos ajudou
a entender melhor como é viver num circo, onde ele já perdeu as contas dos anos
que vive de um lado para o outro com o teatro de lona. ”Não consigo viver sem
esta estrutura circense. Isto faz parte da minha vida” – diz o velho palhaço,
que hoje já está na reserva cedendo lugar aos mais jovens, mas de vez em quando
sobe ao picadeiro com as suas brincadeiras provocando na plateia muitas
gargalhadas.
Segundo o palhaço, durante o
espetáculo tem eu funcionar tudo com perfeição para agradar e divertir a
plateia e no caso dos palhaços, a responsabilidade ainda maior. “No circo e no
picadeiro, o palhaço mesmo chorando por dentro de tristeza ele é obrigado a
provocar alegria e risos na plateia. Essa é a grande responsabilidade do
palhaço que não pode e nem deve demonstrar a sua tristeza pra ninguém”.
“Pipico” acha que a modernidade
da mídia, especialmente a televisão, provocou um grande abalo no circo, mas
isso não serviu para decretar a sua morte. “O circo está se reformulando, se
reciclando para acompanhar o movimento do mundo, mas está mais vivo do que
nunca” – garantiu.
Indagamos a Fabio como é viver
no circo e este logo passou a palavra para o palhaço, com mais vivencia e tempo
de estada para nos responder: “Viver no circo é sempre uma novidade a cada dia
que surge” disse Fábio para entregar o complemento a “Pipio” que arrematou:
“Todos os dias que acordamos deparamos com uma novidade e isso é muito
gratificante. A vidada de um circense é sempre de superação sem limites e tudo,
porque o espetáculo não pode parar e temos que agradar ao respeitável público”
– enfatizou.
MANTEM
A ESSENCIA
A pequena modernização a que o circo
vem se submetendo, não tirou a sua essência, por isso, ainda que em menor
escala continua atraindo um bom e respeitável público para os espetáculos nos
picadeiros no interior de um teatro coberto com lona.
Quanto à condição de ciganos ou
nômades atribuídas a eles, garantem que o circense é como um vaso de planta sem
raiz que pode ser deslocada para qualquer lugar sem nenhum dano. “Essa é a vida
do circo e do circense”.
Indago dobre a questão escolar
das crianças, falaram que isso não é nenhum problema. Segundo eles, existe uma
lei que felizmente é cumprida sem problema no Brasil e aonde as crianças
chegam, tem vagas asseguradas nas escolas, com isso, a educação das crianças
não é tão prejudicada.
“Morar no circo, nas nossas
casas trailer e ônibus, com televisão, internet, tv por assinatura e frigobar,
ar condicionado e frigobar não é nada mal, sem contar que não gastamos dinheiro
em transporte para nos deslocarmos para o trabalho, não enfrentamos os
engarrafamentos e o stress do trânsito e tudo isso é muito bom” – assegurou o
velho palhaço.
Os nossos entrevistados
respondiam a todas as perguntas sem rodeios, mas teve uma que preferiram calar,
talvez com receio do leão do Imposto de Renda. Quando indagamos qual era o
salário médio de um artista do Kroner, sorriram e preferiram calar. Disseram
apenas que o que ganham da para vier com tranquilidade e que o pagamento é
semanal e nada mais a respeito foi dito.
O CIRCO SEM ANIMAIS
Os dois entrevistados garantem
que ninguém pode esconder que o circo vem perdendo um pouco de terreno, mas
isso não significa o fim, por isso está se reciclando sem perder os rumos da
sua história com trabalhadores preocupados em espalhar diversão e alegria por
onde passam.
Os nossos entrevistas recordam
que nos anos 70, existiam mais de três mil circos atuando no Brasil e esse
número, se duvidar não chega hoje a cem em atividades e o Kroner é um desses
teimosos que insiste em fazer espetáculos para agradar ao “respeitável
público”.
“Pipico” disse ainda que a Lei
que proibiu os circos de utilizarem animais ferozes, porém domesticados em seus
espetáculos, como onças, tigre, elefantes leões, ursos e macacos, que
despertavam muita curiosidade no público, o publico passou a se desinteressar
um pouco pelos espetáculos, especialmente a garotada, que tinham nesses
ferrosos animais motivos para ir ver de perto essas feras contracenarem com os
humanos na reciclagem que o circo passa, procuramos de certa forma suprir essa
lacuna e aos poucos estamos conseguindo e trazendo o público de volta.
QUINTA GERAÇÃO
Considerando o circo uma grande
família, Fabio Lisboa, para justificar que o circo funciona com certa dose de
hereditariedade, frisou que o Kroner que está em temporada em Manaus, com 80
pessoas entre artistas e pessoal de apoio, residindo em vários ônibus e
trailers, de onde partirá próximo ao final do ano.
O Kroner, já na quinta geração,
não e a primeira vez que a organização circense faz temporada em Manaus e
sempre que vêm, os responsáveis reclamam pela burocracia para a instalação do
circo, segundo eles, “tudo é feito com muitas dificuldades e exigências, isso
sem contar o sacrifício para se encontrar áreas onde o circo possa ser
instalado” – afirmam.
HISTÓRIA DO KRONER
Tudo começou na Alemanha, quando Luis Robattini conheceu Maria Koner. Saltimbancos, os homens da família faziam apresentações com ursos nas praças passavam o chapéu para arrecadar dinheiro.
Para fugir da guerra que assolava a Alemanha
reuniram seus pertences e embarcam em um navio rumo ao Brasil, ao desembarcarem
na Bahia o clima tropical muito acentuado forçou a família partir rumo ao Sul
onde melhor pudessem se adaptar. E lá seguiram suas vidas como saltimbancos. Tudo começou na Alemanha, quando Luis Robattini conheceu Maria Koner. Saltimbancos, os homens da família faziam apresentações com ursos nas praças passavam o chapéu para arrecadar dinheiro.
Já com oito filhos a família decidiu montar um circo tradicional de tenda, que no lugar da lona, usavam tecido costurado a mão. Alexandre Klein em 1990 sai do picadeiro da família e mantendo a tradição inicia o Circo Kroner.
Após alguns anos se
apresentando no Rio Grande do Sul, Alexandre Klein decide fazer uma temporada
no Uruguai, com boa administração e um grande sucesso o Circo Kroner conseguiu
estabilizar-se rapidamente e se tornar um “circo de peso” em meados de 1994 o
Circo Kroner inicia sua turnê Nacional para a região Nordeste em seguida Norte dos
pais.
Com sucesso de público em alta Alexandre
decide embarcar seu circo pela primeira vez em uma balsa rumo a Manaus. A assim
o Circo Kroner levou com tradição e alegria seus espetáculos aos quatro cantos
do Brasil.
Em 2007 Alexandre já com seus filhos adultos
Evelyn Klein e Rudy Klein, decide fazer uma temporada no inusitad0 no exterior,
percorrendo em quatro anos uma turnê em países da américa do Sul buscando
difundir a cultura circense brasileira no Paraguai, Argentina, Chile e Uruguai.
No final de 2011 de volta ao Brasil, comandado
por Evelyn Klein e Rudy Klein, filhos da quinta geração de família circense o
Circo Kroner transforma-se em Internacional Circo Kroner e com alegria e
tradição no picadeiro, promete manter por muitos anos viva a tradição circense
no Brasil. (As fotos que ilustram a matéria são de espetáculos do Kroner pelo Brasil.)
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